UNESP 2015/2

Cena V – JORGE, MADALENA E MARIA

JORGE – Ora seja Deus nesta casa! (Maria beija-lhe o escapulário1 e depois a mão; Madalena somente o escapulário.)

MADALENA – Sejais bem-vindo, meu irmão!

MARIA – Boas tardes, tio Jorge!

JORGE – Minha senhora mana! A bênção de Deus te cubra, filha! Também estou desassossegado como vós, mana Madalena: mas não vos aflijais, espero que não há de ser nada. É certo que tive umas notícias de Lisboa...

MADALENA (assustada) – Pois que é, que foi?

JORGE – Nada, não vos assusteis; mas é bom que estejaisprevenida, por isso vo-lo digo. Os governadores querem sair da cidade... é um capricho verdadeiro... Depois de aturarem metidos ali dentro toda a força da peste, agora que ela está, se pode dizer, acabada, que são raríssimos os casos, é que por força querem mudar de ares.

MADALENA – Pois coitados!...

MARIA – Coitado do povo! Que mais valem as vidas deles? Em pestes e desgraças assim, eu entendia, se governasse, que o serviço de Deus e do rei me mandava ficar, até a última, onde a miséria fosse mais e o perigo maior, para atender com remédio e amparo aos necessitados. Pois, rei não quer dizer pai comum de todos?

JORGE – A minha donzela Teodora! Assim é, filha, mas o mundo é doutro modo: que lhe faremos?

MARIA – Emendá-lo.

JORGE (para Madalena, baixo) – Sabeis que mais? Tenho medo desta criança.

MADALENA (do mesmo modo) – Também eu.

JORGE (alto) – Mas enfim, resolveram sair: e sabereis mais que, para corte e “buen retiro” dos nossos cinco reis, os senhores governadores de Portugal por D. Filipe de Castela, que Deus guarde, foi escolhida esta nossa boa vila de Almada, que o deveu à fama de suas águas sadias, ares lavados e graciosa vista.

MADALENA – Deixá-los vir.

JORGE – Assim é: que remédio! Mas ouvi o resto. O nosso pobre Convento de São Paulo tem de hospedar o senhor arcebispo D. Miguel de Castro, presidente do governo. Bom prelado é ele; e, se não fosse que nos tira do humilde sossego de nossa vida, por vir como senhor e príncipe secular... o mais, paciência. Pior é o vosso caso...

MADALENA – O meu!

JORGE – O vosso e de Manuel de Sousa: porque os outros quatro governadores – e aqui está o que me mandaram dizer

em muito segredo de Lisboa – dizem que querem vir para esta casa, e pôr aqui aposentadoria2.

MARIA (com vivacidade) – Fechamos-lhes as portas. Metemos a nossa gente dentro – o terço3 de meu pai tem mais de seiscentos homens – e defendemo-nos. Pois não é uma tirania?... E há de ser bonito!... Tomara eu ver seja o que for que se pareça com uma batalha!

JORGE – Louquinha!

MADALENA – Mas que mal fizemos nós ao conde de Sabugal e aos outros governadores, para nos fazerem esse desacato?

Não há por aí outras casas; e eles não sabem que nesta há senhoras, uma família... e que estou eu aqui?...

(Teatro, vol. 3, 1844.)

 

1 escapulário: faixa de tecido que frades e freiras de certas ordens religiosas cristãs usam pendente sobre o peito.

2 pôr aposentadoria: ficar, morar.

3 terço: corpo de tropas dos exércitos português e espanhol dos séculos XVI e XVII.

“Nada, não vos assusteis; mas é bom que estejais prevenida, por isso vo-lo digo.”

Em relação à forma verbal “digo”, os pronomes oblíquos átonos “vo-lo” atuam, respectivamente, como

a

objeto direto e objeto indireto.

b

objeto indireto e objeto direto.

c

objeto direto e predicativo do objeto.

d

sujeito e objeto direto.

e

sujeito e predicativo do sujeito.

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B
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