Caso pluvioso
A chuva me irritava. Até que um dia
descobri que maria é que chovia.
A chuva era maria. E cada pingo
de maria ensopava o meu domingo.
E meus ossos molhando, me deixava
como terra que a chuva lavra e lava.
E eu era todo barro, sem verdura...
maria, chuvosíssima criatura!
Ela chovia em mim, em cada gesto,
pensamento, desejo, sono, e o resto.
Era chuva fininha e chuva grossa,
Matinal e noturna, ativa... Nossa!
ANDRADE, C. D. Viola de bolso. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952 (fragmento).
Considerando-se a exploração das palavras “maria” e “chuvosíssima” no poema, conclui-se que tal recurso expressivo é um(a)
registro social típico de variedades regionais.
variante particular presente na oralidade.
inovação lexical singularizante da linguagem literária.
marca de informalidade característica do texto literário.
traço linguístico exclusivo da linguagem poética.
Passo a passo da solução:
Leitura e Compreensão do Poema: Leia atentamente o fragmento do poema "Caso Pluvioso" de Carlos Drummond de Andrade. Observe como a figura de "Maria" é introduzida e relacionada à chuva.
"A chuva me irritava. Até que um dia
descobri que maria é que chovia.
A chuva era maria."
Perceba que o eu lírico estabelece uma identidade entre "Maria" e a "chuva". Isso não é o uso comum do nome próprio "Maria", mas sim uma atribuição de significado novo, uma metáfora onde Maria representa ou se funde com a chuva.
Análise da palavra "maria": A palavra "maria" não está sendo usada para se referir a uma pessoa específica com esse nome de forma literal dentro do contexto da chuva. O poeta ressignifica a palavra, usando-a como sinônimo ou metáfora para a chuva que o afeta profundamente ("E cada pingo / de maria ensopava o meu domingo"). Essa é uma exploração semântica, uma inovação no uso da palavra dentro do contexto poético.
Análise da palavra "chuvosíssima": Identifique a palavra "chuvosíssima" no verso "maria, chuvosíssima criatura!". Note que essa palavra não existe formalmente no dicionário da língua portuguesa. Ela é formada a partir do adjetivo "chuvosa" com o acréscimo do sufixo superlativo absoluto sintético "-íssima". Essa criação de uma nova palavra (neologismo) intensifica a característica "chuvosa" de Maria (que, como vimos, é a própria chuva ou uma entidade associada a ela), conferindo grande expressividade ao verso.
Identificação do Recurso Expressivo: O uso de "maria" como metáfora para chuva e a criação de "chuvosíssima" são exemplos de como a linguagem literária explora e renova o léxico (o conjunto de palavras de uma língua). O poeta não se limita às palavras e significados existentes; ele os manipula e cria novos para obter efeitos expressivos únicos e singulares.
Avaliação das Alternativas: Analise as opções fornecidas à luz dessa compreensão:
Conclusão: O recurso expressivo utilizado pelo poeta ao empregar "maria" metaforicamente e criar "chuvosíssima" é uma inovação lexical que confere singularidade à linguagem literária do poema. Portanto, a alternativa correta é a C.
Revisão de Conceitos
Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.