IFSulDeMinas 2018/1
CAPÍTULO CXXIII – OLHOS DE RESSACA
No enterro de Escobar, seu melhor amigo, Bentinho pensa ver nos olhos de Capitu as marcas da traição de que acredita ter sido vítima.
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Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...
As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora como se quisesse tragar também o nadador da manhã.
Assis, Machado de. Dom Casmurro. 32. ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 160-161. (Fragmento).
Em diversas passagens da obra, o narrador menciona os olhos de Capitu como sendo “olhos de ressaca”, sendo isso uma referência clara:
aos hábitos da esposa que, sendo uma mulher atormentada pelo sentimento de culpa causado pelo adultério, teria se entregado ao vício da bebida.
à ação do mar que, em período de ressaca, assim como o olhar de Capitu, atraía para si tudo e todos que com ela mantinham contato visual.
à tentativa de Capitu de esconder seus instintos lascivos em relação aos homens que dela se aproximavam.
à fragilidade de Capitu e à sua submissão ao marido, características muito comuns às mulheres do século XIX.
E mais: nota TRI a todo o momento.
