Texto IV
VENCE-DEMANDA
__EDUCAÇÃO: radical vivo que monta, arrebata e alumbra os seres e as coisas do
mundo. Fundamento assentado no corpo, na palavra, na memória e nos atos. Balaio de
experiências trançado em afeto, caos, cisma, conflito, beleza, jogo, peleja e festa. Seus fios
são tudo aquilo que nos atravessa e toca. Encantamento de batalha e cura que nos faz como
5 seres únicos de inscrições intransferíveis e imensuráveis. Repertório de práticas miúdas,
cotidianas e contínuas, que serpenteiam no imprevisível e roçam possibilidades para plantar
esperanças, amor e liberdade.
__[...]
__“Não basta catar a folha, é preciso cantá-la”. Para cada uma delas que brota, um trato.
10 Com o devido pedido de licença aos moradores do lugar, a folha se cata, macera, seca,
queima, e se sopram palavras de força que despertem o que nela habita. As folhas nos
ensinam, porém havemos de silenciar profundamente para ouvi-las. Encapsulados em um
tempo do quebranto, assediados pelo olho grande e pela obsessão dos agentes contrários
à vida, o que nos resta é nos munirmos de repertórios guerreiros. É possível afugentar o
15 assombro, invocar espiritualidades que façam minguar as forças da demanda cuspida por
bocas assassinas? Sim, é possível. A aposta está na educação, que é aqui lida como força
de batalha e cura. Esse caráter duplo riscado nessas folhas, ao ser despertado pelo hálito e
pelo ritmo do diálogo, saltará feito encantaria que dá corpo e caminho para a invocação de
outros atos. Ao longo do folhear, serão despertadas sensações de cisma, implicação,
20 rebeldia, amor, fúria e liberdade. Cantarei a educação com respeito e compromisso com as
aprendizagens que foram plantadas nessa terra por muitas e muitos que vieram antes – os
que fazem junto essa travessia e os que irão confiar a zelação das defesas compartilhadas.
Dessas aprendizagens foi feito um plantio que une diversos corpos, memórias e saberes.
Um roçado de esperanças que semeia nesse chão a aposta da educação como prática que
25 tem como principal tarefa responder de forma responsável às injustiças produzidas pelo
contínuo colonial. Da mesma folha se fazem o remédio e o veneno. Dosaremos, então, a
medida para o cuidado e a defesa das aldeias da margem, a emenda das histórias, o porto
das memórias, a vivacidade do corpo, os estímulos à alegria, o cultivo à beleza, o
reconhecimento dos ciclos e a sensibilidade com as múltiplas formas que compreendem a
30 existência como ecologia. Que possamos preparar nossas artes de cura e batalha e nos
sagrarmos vencedores dessa demanda que insiste em nos espreitar.
RUFINO, L. Vence-demanda: educação e descolonização. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2021.
p. 5-7.
“Cantarei a educação com respeito e compromisso com as aprendizagens que foram plantadas nessa terra por muitas e muitos que vieram antes – os que fazem junto essa travessia e os que irão confiar a zelação das defesas compartilhadas. Dessas aprendizagens foi feito um plantio que une diversos corpos, memórias e saberes. Um roçado de esperanças que semeia nesse chão a aposta da educação como prática que tem como principal tarefa responder de forma responsável às injustiças produzidas pelo contínuo colonial. Da mesma folha se fazem o remédio e o veneno.” (linhas 20-26)
Ao longo do texto, Luiz Rufino relaciona plantio a educação. Essa aproximação tem a função de:
afirmar que a pauta do meio ambiente também é uma pauta da educação.
insinuar que a educação brasileira não valoriza as práticas de agricultura.
resgatar conhecimentos ignorados pela educação praticada nas escolas.
aproximar as escolas dos debates sobre as formas de cultivo e colheita.