Caiu antes de alcançar essa cova arredada. Tentou erguer-se, endireitou a cabeça e estirou as pernas dianteiras, mas o resto do corpo ficou deitado de banda. Nesta posição torcida, mexeu-se a custo, ralando as patas, cravando as unhas no chão, agarrando-se nos seixos miúdos. Afinal, esmoreceu e aquietou-se junto às pedras onde os meninos jogavam cobras mortas. [...]
Uma noite de inverno, gelada e nevoenta, cercava a criaturinha. Silêncio completo, nenhum sinal de vida nos arredores. O galo velho não cantava no poleiro, nem Fabiano roncava na cama de varas. Estes sons não interessavam Baleia, mas quando o galo batia as asas e Fabiano se virava, emanações familiares revelavam-lhe a presença deles. Agora parecia que a fazenda se tinha despovoado.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 91. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 90.
O fragmento, “noite de inverno, gelada e nevoenta” (linha 5),
demonstra a crise socioeconômica de Baleia.
caracteriza o inverno rigoroso no sertão nordestino.
indica a situação da vida do trabalhador na velhice.
representa o vazio da morte e da fragilidade da vida.