Brasília, Sinfonia da Alvorada
No princípio era o ermo
Eram antigas solidões sem mágoa.
No princípio era o agreste:
E o verde triste do cerrado.
Não havia ninguém. A solidão
Mais parecia um povo inexistente
Dizendo coisas sobre nada.
Sim, os campos sem alma
Pareciam falar, e a voz que vinha
Das grandes extensões, dos fundões crepusculares
Nem parecia mais ouvir os passos
Dos velhos bandeirantes, os rudes pioneiros
Que, em busca de ouro e diamantes,
Ecoando as quebradas com o tiro de suas armas,
A tristeza de seus gritos e o tropel
De sua violência contra o índio, estendiam
As fronteiras da pátria muito além do limite dos tratados.
– Fernão Dias, Anhanguera, Borba Gato,
Vós fostes os heróis das primeiras marchas para o oeste,
Da conquista do agreste
E da grande planície ensimesmada!
Mas passastes.
E só ficaram as solidões sem mágoa
E vinha a noite. Nas campinas celestes
Rebrilhavam mais próximas as estrelas
E o Cruzeiro do Sul resplandecente
Parecia destinado
A ser plantado em terra brasileira:
A Grande Cruz alçada
Sobre a noturna mata do cerrado
Para abençoar o novo bandeirante
O desbravador ousado
O ser de conquista
O Homem!
(www.letras.com.br. Adaptado.)
Brasília, Sinfonia da Alvorada foi composta por Vinícius de Moraes e Tom Jobim, em 1961, para celebrar a inauguração de Brasília. A letra da composição assinala
a continuidade do projeto histórico de preencher pelo povoamento os vazios do território brasileiro.
a intenção política de deslocamento do parque industrial brasileiro para as regiões mais bem protegidas do interior do país.
a impossibilidade da antiga capital da República brasileira de garantir a vigência do Estado democrático e de direito.
a necessidade de incorporar à civilização os trabalhadores rurais do cerrado por meio de concessão de direitos sociais.
a vitória dos grandes latifundiários interessados em retirar o controle político das sociedades urbanas.