Bolero de Ravel
A alma cativa e obcecada
enrola-se infinitamente numa espiral de desejo
e melancolia.
Infinita, infinitamente...
As mãos não tocam jamais o aéreo objeto,
esquiva ondulação evanescente.
Os olhos, magnetizados, escutam
e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa,
está presa...
Os tambores abafam a morte do Imperador.
O poema acima integra a obra Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade. Da leitura dele NÃO se pode depreender que
se constrói pela utilização da materialidade do corpo e da espiritualidade da alma, com ênfase para as ações concretizadoras das mãos.
revela uma relação semântica traduzida na ideia de aprisionamento que envolve a alma, o corpo e a vida.
sugere um movimento contínuo que a tudo engolfa e impede a libertação do ser, manifesta na ideia de duração e circularidade.
reproduz verbalmente a construção musical do bolero de Ravel, representada, no poema, pela ideia de moto-contínuo, de repetição e de infinitude.