ENEM 2019 segunda aplicação

Biografia de Pasárgada

Quando eu tinha meus 15 anos e traduzia na classe de grego do D. Pedro II a Ciropédia fiquei encantado com o nome dessa cidadezinha fundada por Ciro, o Antigo, nas montanhas do sul da Pérsia, para lá passar os verões. A minha imaginação de adolescente começou a trabalhar, e vi Pasárgada e vivi durante alguns anos em Pasárgada.

Mais de vinte anos depois, num momento de profundo desânimo, saltou-me do subconsciente este grito de evasão: “Vou-me embora pra Pasárgada!” Imediatamente senti que era a célula de um poema. Peguei do lápis e do papel, mas o poema não veio. Não pensei mais nisso. Uns cinco anos mais tarde, o mesmo grito de evasão nas mesmas circunstâncias. Desta vez, o poema saiu quase ao correr da pena. Se há belezas em “Vou-me embora pra Pasárgada!”, elas não passam de acidentes. Não construí o poema, ele construiu-se em mim, nos recessos do subconsciente, utilizando as reminiscências da infância — as histórias que Rosa, minha ama-seca mulata, me contava, o sonho jamais realizado de uma bicicleta etc.

BANDEIRA, M. Itinerário de Pasárgada. São Paulo: Global, 2012.

O texto é um depoimento de Manuel Bandeira a respeito da criação de um de seus poemas mais conhecidos.

De acordo com esse depoimento, o fazer poético em “Vou-me embora pra Pasárgada!”

a

acontece de maneira progressiva, natural e pouco intencional.

b

decorre de uma inspiração fulminante, num momento de extrema emoção.

c

ratifica as informações do senso comum de que Pasárgada é a representação de um lugar utópico.

d

resulta das mais fortes lembranças da juventude do poeta e de seu envolvimento com a literatura grega.

e

remete a um tempo da vida de Manuel Bandeira marcado por desigualdades sociais e econômicas.

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Resposta
A
Tempo médio
2 min

Resolução

Análise Detalhada da Questão

A questão pede para identificar como ocorreu o processo de criação (o "fazer poético") do poema "Vou-me embora pra Pasárgada", com base exclusivamente no depoimento de Manuel Bandeira fornecido no texto.

1. Leitura Atenta do Texto: O primeiro passo é ler o texto "Biografia de Pasárgada" com atenção, buscando as passagens em que Bandeira descreve a gênese do poema.

2. Identificação das Etapas do Processo Criativo Descrito:

  • Origem Remota (15 anos): Contato com o nome "Pasárgada" ao traduzir a Ciropédia. Encantamento e imaginação adolescente sobre o lugar.
  • Primeira Manifestação (Mais de 20 anos depois): Em um momento de "profundo desânimo", surge o "grito de evasão": "Vou-me embora pra Pasárgada!". Bandeira reconhece ali a "célula de um poema", mas não consegue escrevê-lo.
  • Segunda Manifestação e Escrita (Uns 5 anos mais tarde): Em circunstâncias semelhantes ("mesmo grito de evasão"), o poema "saiu quase ao correr da pena".
  • Natureza do Processo: Bandeira afirma: "Não construí o poema, ele construiu-se em mim, nos recessos do subconsciente", utilizando "reminiscências da infância". Ele considera as belezas do poema como "acidentes".

3. Avaliação das Alternativas à Luz do Texto:

  • Alternativa A (correta): Afirma que o fazer poético acontece de maneira "progressiva, natural e pouco intencional".
    • Progressiva: O processo se estendeu por décadas (desde os 15 anos até a escrita final, mais de 25 anos depois).
    • Natural: O poema "saiu quase ao correr da pena" e "construiu-se em mim".
    • Pouco intencional: Bandeira nega a construção deliberada ("Não construí o poema"), atribui a origem ao subconsciente e a um "grito de evasão", e diz que as belezas são "acidentes". Esta alternativa condiz perfeitamente com a descrição de Bandeira.
  • Alternativa B (incorreta): Fala em "inspiração fulminante". O texto mostra um longo período de gestação e uma tentativa frustrada antes da escrita fluida, o que contraria a ideia de algo "fulminante".
  • Alternativa C (incorreta): Discute a interpretação de Pasárgada como lugar utópico. Embora o poema possa ter essa interpretação, o texto foca no processo de criação, não na ratificação de interpretações do senso comum sobre o poema pronto.
  • Alternativa D (incorreta): Cita "mais fortes lembranças da juventude" e "envolvimento com a literatura grega". A literatura grega forneceu apenas o nome; as reminiscências usadas na construção do poema foram as da infância (ama-seca, bicicleta), não necessariamente as mais fortes da juventude. O foco do texto não está na intensidade das memórias, mas na sua origem subconsciente.
  • Alternativa E (incorreta): Sugere que o poema remete a um tempo de desigualdades. O texto menciona a ama-seca e a bicicleta não realizada, mas não enfatiza a desigualdade como tema central do processo criativo descrito. O foco é a evasão e o subconsciente.

4. Conclusão: A alternativa A é a única que descreve com precisão o processo de criação poética conforme relatado por Manuel Bandeira no texto, destacando a progressão temporal, a naturalidade da escrita final e a falta de intencionalidade consciente na construção do poema.

Dicas

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Concentre-se em como Bandeira descreve o *surgimento* e a *escrita* do poema, não apenas na origem do nome ou no significado posterior.
Observe a linha do tempo que Bandeira estabelece: o primeiro contato com o nome, a primeira vez que a frase surgiu, a segunda vez e a escrita.
Preste atenção às palavras que indicam a agência (ou falta dela) do poeta no processo: 'subconsciente', 'não construí', 'construiu-se em mim'.

Erros Comuns

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Confundir a origem do nome 'Pasárgada' (literatura grega) com o processo de criação do poema inteiro.
Interpretar a fluidez da escrita ("quase ao correr da pena") como sinônimo de inspiração súbita ou "fulminante", ignorando o longo tempo de gestação.
Focar na interpretação do poema finalizado (Pasárgada como utopia) em vez de se ater à descrição do processo de criação fornecida no texto.
Supervalorizar detalhes como as memórias de infância, atribuindo-lhes um significado (como crítica social) que não é o foco do depoimento de Bandeira sobre o processo criativo.
Não perceber a distinção que Bandeira faz entre a construção consciente ("Não construí") e o surgimento subconsciente ("construiu-se em mim").
Revisão

Revisão de Conceitos

  • Processo de Criação Literária: Refere-se às etapas, influências e mecanismos (conscientes ou inconscientes) envolvidos na produção de uma obra literária. Pode variar muito entre autores e obras, envolvendo desde planejamento meticuloso até inspiração súbita ou, como no caso descrito, um longo processo de gestação subconsciente.
  • Subconsciente na Arte: Muitos artistas, especialmente ligados a movimentos como o Surrealismo e o Modernismo (contexto de Bandeira), valorizam o papel do subconsciente, dos sonhos e das memórias involuntárias como fontes de material criativo, muitas vezes escapando ao controle racional pleno.
  • Inspiração Poética: Tradicionalmente vista como um momento de iluminação ou influência externa/divina, mas também pode ser entendida de formas mais complexas, como o resultado de trabalho árduo, acúmulo de experiências, ou a emergência de material psíquico profundo, como descrito por Bandeira.
  • Evasão na Literatura: Tema recorrente, especialmente no Romantismo e Modernismo, onde a escrita (ou a ideia de um lugar/tempo idealizado, como Pasárgada) serve como fuga ou refúgio de uma realidade considerada insatisfatória, dolorosa ou monótona.
Habilidade

Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.

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