ASSOMBRAMENTO
E quem não fosse vaqueano naqueles sítios iria, sem dúvida, estacar diante da grande porteira escancarada, inquirindo qual o motivo por que a gente da fazenda era tão esquiva que nem ao menos aparecia à janela quando a cabeçada da madrinha da tropa, carrilhonando à frente dos lotes, guiava os cargueiros pelo caminho a fora.
Entestando com a estrada, o largo rancho de telha, com grandes esteios de aroeira e mourões cheios de argolas de ferro, abria-se ainda distante da casa, convidando o viandante a abrigar-se nele. No chão havia ainda uma trempe de pedra com vestígios de fogo e, daqui e dacolá, no terreno acamado e liso, esponjadouros de animais vagabundos.
Muitas vezes os cargueiros das tropas, ao darem com o rancho, trotavam para lá, esperançados de pouso, bufando, atropelando-se, batendo uns contra os outros as cobertas de couro cru; entravam pelo rancho adentro, apinhavam-se, giravam impacientes à espera da descarga até que os tocadores a pé, com as longas toalhas de crivo enfiadas no pescoço, falavam à mulada, obrigando-a a ganhar o caminho.
Pelo sertão, de Afonso Arinos
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=2926(Fragmentado)
Afonso Arinos, advogado, contista, romancista, nasceu em Paracatu, MG, em 1º de maio de 1868. Foi acadêmico da Academia Brasileira de Letras e renomado escritor Pré-Modernista. Pode-se inferir que no trecho predomina uma característica do Pré-Modernismo que é:
Dualismo, por apresentar situações de contraste.
Subjetivismo, por destacar a impressão do autor sobre o mundo.
Regionalismo, por apresentar elementos da cultura do sertão.
Bucolismo, por narrar a saída do eu lírico da cidade para o campo.
Nacionalismo, por exaltar a beleza do país.