Instrução: As questões de números 01 a 05 referem-se ao texto abaixo. Os destaques ao longo do texto estão citados nas questões.
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O bem e o mal do estrangeirismo
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Por Alexandre Carvalho
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01 \(\quad\quad\) O terror dos puristas da língua em Portugal é um youtuber nascido e criado no Engenho
02 Novo, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro: Luccas Neto. Dono do canal infantil Luccas Toon,
03 com 36,9 milhões de seguidores no YouTube, o carioca também é um hit entre as crianças
04 portuguesas. A tal ponto que, em novembro do ano passado, o jornal lisboeta Diário de Notícias
05 publicou uma matéria em tom xenofóbico, reclamando que os miúdos de lá estão cada vez mais
06 a falar “brasileiro”, de tanto assistir Luccas e outros influenciadores daqui.
07 \(\quad\quad\) “Dizem ‘grama’ em vez de relva, autocarro é ‘ônibus’, rebuçado é ‘bala’, riscas são ‘listras’
08 e leite está na ‘geladeira’ em vez de no frigorífico”, alertou o jornal. “Os educadores notam-no
09 sobretudo depois do confinamento – à conta de muitas horas de exposição a conteúdos feitos
10 por youtubers brasileiros.”
11 \(\quad\quad\) Pais e educadores portugueses estão preocupados. Mas talvez não devessem levar o caso
12 tão a sério. Afinal, mais do que o jeitinho de falar de sua antiga colônia, os lusos usam e abusam
13 de palavras do francês e do inglês – e aí sem a mesma vergonha.
14 \(\quad\quad\) Isso porque o estrangeirismo – a influência de culturas do exterior sobre os costumes e
15 as falas de um povo – é parte da evolução natural de qualquer língua. Tentar proibi-lo é como
16 enxugar gelo. Mesmo assim, já teve político que tentou.
17 \(\quad\quad\) Em 1999, o então deputado federal Aldo Rebelo inventou um Projeto de Lei para limitar
18 o uso de termos estrangeiros no Brasil. Segundo o PL, toda vez que um meio de comunicação
19 de massa, estabelecimento comercial ou peça publicitária usassem uma palavra de fora, teriam
20 de colocar junto a tradução em português.
21 \(\quad\quad\) O projeto excêntrico, claro, não vingou. Até porque, quando um termo de qualquer país
22 é incorporado amplamente nos nossos diálogos e textos, ele na prática deixa de ser estrangeiro.
23 Vira nosso. Todo dicionário nacional está inundado de vocábulos que não brotaram nem em
24 Portugal, nem no Brasil, mas que já são tão de casa quanto receita de caipirinha.
25 \(\quad\quad\) O mal do estrangeirismo nem está exatamente na substituição de termos, como rooftop
26 no lugar de “terraço”. O problema maior é quando, no afã de pegar algo emprestado de uma
27 língua de fora, deturpamos a lógica da nossa.
28 \(\quad\quad\) Um exemplo? Cada vez mais, brasileiros têm falado e escrito “eventualmente” no sentido
29 de “mais cedo ou mais tarde”, “algo que em algum momento vai acabar acontecendo”… porque
30 esse é o significado de eventually, o termo em inglês. Só que o nosso “eventualmente” sempre
31 quis dizer outra coisa: expressa uma possibilidade, algo que pode ou não ocorrer, ou que
32 acontece ocasionalmente.
33 \(\quad\quad\) Erros semelhantes são o uso do verbo “realizar” no sentido de “perceber’’ e “aplicar” no
34 lugar de “inscrever-se”. Cringe, usado para expressar “vergonha alheia” a partir de 2021, então,
35 é um crime lesa-pátria. No caso, duas pátrias, porque o uso que se deu aqui nunca aconteceu lá
36 fora. No Brasil, virou adjetivo (“ainn, isso é cringe”). Lá fora, é verbo. E a expressão correta é
37 cringe worthy (algo digno de constrangimento). Aí complica.
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(Disponível em: https://super.abril.com.br/sociedade/o-bem-e-o-mal-do-estrangeirismo/ – texto adaptado especialmente para esta prova.)
Assinale a alternativa que indica o número correto de artigos presentes no trecho a seguir. Considere também os que apareçam combinados ou contraídos a outras palavras. “Isso porque o estrangeirismo – a influência de culturas do exterior sobre os costumes e as falas de um povo – é parte da evolução natural de qualquer língua.”.
4.
5.
6.
7.
8.