Bondes elétricos (primeira parte)
Não tendo assistido à inauguração dos bondes elétricos, deixei de falar neles. Nem sequer entrei em algum, mais tarde, para receber as impressões da nova tração e contá-las. Daí o meu silêncio da outra semana. Anteontem, porém, indo pela Praia da Lapa, em um bonde comum, encontrei um dos elétricos, que descia. Era o primeiro que estes meus olhos viam andar.
Para não mentir, direi o que me impressionou, antes da eletricidade, foi o gesto do cocheiro. Os olhos do homem passavam por cima da gente que ia no meu bonde, com um grande ar de superioridade. Posto não fosse feio, não eram as prendas físicas que lhe davam aquele aspecto. Sentia-se nele a convicção de que inventara, não só o bonde elétrico, mas a própria eletricidade. Não é meu ofício censurar essas meias glórias, ou glórias de empréstimo, como lhe queiram chamar espíritos vadios. As glórias de empréstimo, se não valem tanto como as de plena propriedade, merecem sempre algumas mostras de simpatia. Para que arrancar um homem a essa agradável sensação? Que tenho para lhe dar em troca?
(Machado de Assis. Crônicas escolhidas de Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1994. Adaptado)
Assinale a alternativa em que o termo em destaque foi empregado em sentido figurado.
Não tendo assistido à inauguração dos bondes elétricos, deixei de falar neles.
Para não mentir, direi o que me impressionou, antes da eletricidade, foi o gesto do cocheiro.
Os olhos do homem passavam por cima da gente que ia no meu bonde, com um grande ar de superioridade.
Sentia-se nele a convicção de que inventara, não só o bonde elétrico, mas a própria eletricidade.
Não é meu ofício censurar essas meias glórias, ou glórias de empréstimo, como lhe queiram chamar espíritos vadios.