Texto-base para as questões 01 a 04.
[...]
A princípio, a Língua Portuguesa era voltada para o ensino da gramática normativa, com treinamentos de escrita de redação. Assim, em cada momento ao longo da história do ensino da Língua Portuguesa, “o modo de conceber a linguagem também passou por mudanças e isso resultou em três concepções que estão presentes ainda hoje no modo de conceber o ensino da língua” (OLIVEIRA, 2013, p. 21). Geraldi (2011) apresenta essas concepções, sendo elas: a) concepção de linguagem como expressão do pensamento, b) concepção de linguagem como instrumento de comunicação e c) concepção interacionista de linguagem.
Com relação à linguagem como expressão do pensamento, segundo Geraldi, “[...] essa concepção ilumina, basicamente, os estudos tradicionais. Se concebemos a linguagem como tal, somos levados a afirmações – correntes – de que pessoas que não conseguem se expressar não pensam” (GERALDI, 2011, p. 41).
Percebe-se, pelas palavras do autor, que quem concebe a linguagem a partir dessa perspectiva não considera a presença do interlocutor, pois a fala/escrita é caracterizada como um ato individual e, dessa forma, não há nenhuma referência a questões sociais que influenciam a linguagem.
Já a segunda concepção, a linguagem como instrumento de comunicação, “está ligada à teoria da comunicação e vê a língua como um código (conjunto de signos que se combinam segundo regras) capaz de transmitir ao receptor certa mensagem” (GERALDI, 2011, p. 41). Para essa concepção, a linguagem é considerada, apenas, do ponto de vista do locutor, não havendo, portanto, a relação com o outro. O outro é visto somente como um receptor passivo da mensagem do locutor. Não é considerado, dessa forma, o caráter social da língua.
A terceira concepção, a linguagem como forma de interação,
[...] mais do que possibilitar uma transmissão de informações de um emissor a um receptor, a linguagem é
vista como um lugar de interação humana. Por meio dela, o sujeito que fala prática ações que não
conseguiria levar a cabo, a não ser falando; com ela o falante age sobre o ouvinte, constituindo
compromissos e vínculos que não preexistam à fala (GERALDI, 2011, p. 41).
Nessa concepção, considera-se que os seres humanos interagem socialmente mediados pela linguagem, organizando as suas relações sociodiscursivas. Os sujeitos passam a ser vistos como construtores sociais, haja vista que é por meio das interações, ou seja, dos diálogos, que há trocas de experiências e de conhecimentos.
[...]
[Fonte: CASCAVEL. Secretaria Municipal de Educação. Currículo para rede pública municipal de ensino de Cascavel - Volume 1: Educação Infantil. Cascavel: SEMED, 2020. p. 265-266. (com alterações)]
Assinale a alternativa CORRETA, considerando o conteúdo do texto.
A terceira concepção de linguagem tem interesse restrito na interação oral, uma vez que se interessa pelos ‘diálogos’ travados entre os interlocutores. Por essa razão, sua adoção é adequada no Ensino Infantil, já que nesse nível se privilegiam as interações orais.
A terceira concepção de linguagem nega a possibilidade de se usar a língua como uma forma de comunicação, bem como ignora a relação entre língua e pensamento, conforme fica evidente na fala de Geraldi.
No primeiro parágrafo, faz-se uma referência à história do ensino de Língua Portuguesa. Considera-se, nesse caso, especificamente a forma como ela se dava no passado no município de Cascavel, contexto de onde emergiu a divisão didática relativa às concepções de linguagem citadas.
O tema central do texto não é a forma como os indivíduos interagem por meio da linguagem, mas sim a forma como se descrevem e analisam tais interações, a partir de perspectivas diferentes, as quais acabam refletindo nas escolhas teórico-metodológicas relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa.
No primeiro parágrafo, evidencia-se que o ensino de questões gramaticais e a produção de redação escolar não fazem mais parte do ensino de Língua Portuguesa, já que configuram formas tradicionais de se trabalhar conteúdos desse componente curricular.