As casas [antes] não tinham tantas grades e existiam poucos condomínios guardados por seguranças particulares. Os condomínios de hoje mais parecem fortalezas medievais, como as de desenhos animados. São iguais àquelas de onde o bravo cavaleiro tenta salvar a donzela presa na torre.
Era bem menos perigoso andar nas ruas. Imagine que as pessoas nem se preocupavam em sair por aí cheias de joias de ouro no pescoço, pulso ou dedos. Falava-se pouco em meninos de rua, até porque não eram muitos. As mulheres não tinham a menor vontade de frequentar academias para aprender a usar um revolver – muito menos meninos.
Antigamente, os bandidos eram “profissionais” e desprezavam colegas que usassem a violência. Essas estrelas do submundo nem andavam armadas. Era a época dos batedores de carteiras que tinham as mãos tão ágeis como as de um mágico. Enfiavam sutil e eficazmente as mãos no bolso da vítima, que só percebia o prejuízo em casa.
Mas a situação mudou. Os “profissionais”, vistos até com certa admiração popular, desapareceram. Instalou-se a barbárie. Surgiram gangues de violentos adolescentes que atacam crianças para tirar seu tênis. Isso acontece muitas vezes na frente da escola, em plena luz do dia.
DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão de papel: A infância, a adolescência e os Direitos Humanos no Brasil. São Paulo: Ática, 1994. p. 29-30.
A voz autoral, nesse fragmento da obra “O cidadão de papel”,
tenta mostrar que o povo brasileiro, pela forma como foi colonizado, guardou, em seu íntimo, a crueldade a que foi tantas vezes foi submetido e, por isso, é, por natureza, agressivo.
traça um parâmetro entre a maneira de viver de outrora e a de hoje em dia, procurando convencer o cidadão sobre a necessidade de estar sempre atento quando andar nas ruas.
fala sobre a evolução social, fazendo uma referência às transformações ocorridas no comportamento humano e à violência que se intensificou com o passar do tempo.
revela que ser batedor de carteira, antigamente, era uma profissão tão admirada, pela habilidade com que agiam, como a de um mágico.
comenta sobre a intensificação da pobreza e dos conflitos familiares e, consequentemente, a respeito do aumento dos meninos de rua.