As cartas de amor
deveriam ser fechadas
com a língua.
Beijadas antes de enviadas.
Sopradas. Respiradas.
O esforço do pulmão
capturado pelo envelope,
a letra tremendo
como uma pálpebra.
Não a cola isenta, neutra,
mas a espuma, a gentileza,
a gripe, o contágio.
Porque a saliva
acalma um machucado.
As cartas de amor
deveriam ser abertas
com os dentes.
CARPINEJAR, F. Como no céu. Rio de Janeiro: Bertrand Russel, 2005.
No texto predomina a função poética da linguagem, pois ele registra uma visão imaginária e singularizada de mundo, construída por meio do trabalho estético da linguagem.
A função conativa também contribui para esse trabalho na medida em que o enunciador procura
influenciar o leitor em relação aos sentimentos provocados por uma carta de amor, por meio de opiniões pessoais.
definir com objetividade o sentimento amoroso e a importância das cartas de amor.
alertar para consequências perigosas advindas de mensagens amorosas.
esclarecer como devem ser escritas as mensagens sentimentais nas cartas de amor.
produzir uma visão ficcional do sentimento amoroso presente em cartas de amor.
Análise da Questão:
A questão pede para identificar como a função conativa da linguagem contribui para o trabalho estético do poema de Fabrício Carpinejar, onde já se reconhece o predomínio da função poética.
Passo a Passo da Solução:
Compreensão do Texto Base: O poema descreve, de forma lírica e subjetiva, como as cartas de amor "deveriam" ser tratadas. Ele usa imagens sensoriais e corporais fortes ("fechadas com a língua", "beijadas", "sopradas", "abertas com os dentes", "saliva", "gripe", "contágio") para expressar uma visão particular sobre a intensidade e a intimidade da comunicação amorosa por carta.
Identificação da Função Poética: Conforme afirmado no enunciado, a função poética predomina. Isso é visível na escolha das palavras, na construção das imagens ("letra tremendo como uma pálpebra"), no ritmo e na exploração da sonoridade e da forma da mensagem para criar um efeito estético e expressar sentimentos de maneira singular.
Identificação da Função Conativa: A função conativa (ou apelativa) centra-se no receptor (leitor) e busca influenciá-lo, persuadi-lo ou mobilizá-lo. Ela se manifesta frequentemente pelo uso de verbos no imperativo, vocativos ou, como neste caso, por meio de formas que expressam desejo, sugestão ou conselho enfático. No poema, o uso repetido da forma verbal "deveriam" ("As cartas de amor deveriam ser fechadas...", "As cartas de amor deveriam ser abertas...") funciona como uma forte sugestão ou um apelo ao leitor sobre como ele *deveria* encarar e manusear as cartas de amor, transmitindo a visão de mundo do eu lírico.
Análise da Interação das Funções: A questão pergunta como a função conativa *contribui* para o trabalho estético (função poética). A função conativa, ao usar "deveriam", não dá uma ordem direta, mas tenta persuadir o leitor a adotar a perspectiva do eu lírico, a sentir a intensidade e a fisicalidade que ele atribui às cartas de amor. Essa tentativa de influenciar os sentimentos e a percepção do leitor sobre o ato de enviar e receber cartas de amor é feita por meio das opiniões e da visão muito pessoal ("opiniões pessoais") expressas no poema.
Avaliação das Alternativas:
Conclusão: A função conativa se manifesta no desejo do eu lírico de persuadir o leitor a compartilhar de sua visão intensa e física sobre as cartas de amor, influenciando assim seus sentimentos a respeito delas, o que torna a alternativa A a correta.
Revisão de Conceitos:
Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.