Apóstrofe à carne
Quando eu pego nas carnes do meu rosto,
Pressinto o fim da orgânica batalha:
– Olhos que o húmus necrófago estraçalha,
Diafragmas, decompondo-se, ao sol-posto.
E o Homem – negro e heteróclito composto,
Onde a alva flama psíquica trabalha,
Desagrega-se e deixa na mortalha
O tacto, a vista, o ouvido, o olfato e o gosto!
Carne, feixe de mônadas bastardas,
Conquanto em flâmeo fogo efêmero ardas,
A dardejar relampejantes brilhos,
Dói-me ver, muito embora a alma te acenda,
Em tua podridão a herança horrenda,
Que eu tenho de deixar para os meus filhos!
(Augusto dos Anjos. Obra completa, 1994.)
No plano formal, o poema é marcado por
versos brancos, linguagem obscena, rupturas sintáticas.
vocabulário seleto, rimas raras, aliterações.
vocabulário antilírico, redondilhas, assonâncias.
assonâncias, versos decassílabos, versos sem rimas.
versos livres, rimas intercaladas, inversões sintáticas.
Para responder a esta questão, é necessário analisar a forma do poema de Augusto dos Anjos, compreendendo seus aspectos estruturais e estilísticos. Observa-se vocabulário formal e seleto, característico do autor, além de rimas bem elaboradas, mas não necessariamente abundantes (“rimas raras”). Também se nota o uso de aliterações, que reforçam a sonoridade e a expressividade, por exemplo em “mortalha” e “monadas bastardas”, contribuindo para o ritmo e para o tom reflexivo. Já as características que habitualmente descrevem versos brancos (sem rimas), versos livres (sem métrica fixa) ou redondilhas (métrica específica de cinco ou sete sílabas poéticas) não correspondem ao poema em questão. Assim, a alternativa correta é aquela que destaca vocabulário seleto, rimas raras e aliterações.