Após a morte de Tancredo Neves, a Rede Globo exibiu uma edição especial do “Jornal Nacional” sobre a doença e o falecimento do presidente eleito intitulada: “O martírio do Dr. Tancredo”. O suposto caráter heroico do presidente foi destacado: “Era um homem público predestinado, um homem que tinha uma missão e que iria cumpri-la a qualquer custo”, comentava Sérgio Chapelin. Tancredo aparecia como aquele que podia ler na história o que os outros não viam, uma espécie de intérprete profético do destino coletivo. O mito que ia sendo construído sobre o presidente também se nutria do caráter inusitado daqueles acontecimentos de março e abril de 1985. Além da internação na véspera da posse e de uma relativa melhora no Domingo de Páscoa, Tancredo morreu no dia de Tiradentes.
MARCELINO, Douglas Attila. “Especial Heróis na mídia - São Tancredo”. Revista de História da Biblioteca Nacional. Edição Número 54. Rio de Janeiro, Março de 2010, p. 58-61. (adaptado)
Um dia antes de sua posse, marcada para o dia 15 de março de 1985, Tancredo Neves foi internado. Após 7 cirurgias, ele faleceu no dia 21 de abril. A construção de uma memória para este evento histórico por parte da mídia indica que,
ao ser eleito pelo voto direto, Tancredo Neves consolidou a democracia no Brasil e, por isso, sua imagem foi associada pela Rede Globo à figura de Tiradentes, personagem que se transformou em um símbolo heroico das instituições republicanas no país.
ao ser consagrado pela Rede Globo como uma espécie de “messias” republicano, Tancredo Neves foi representado muitas vezes como o maior responsável pela transição para a Democracia no Brasil, em uma perspectiva personalista da história.
ao ser internado, Tancredo Neves causou grande comoção no país, impulsionada pela edição especial do “Jornal Nacional”, demonstrando o temor que a emissora tinha, naquele momento da posse do então vice-presidente, Ulisses Guimarães, figura política ligada aos militares
ao ser visto como um mártir, Tancredo Neves passava a representar toda a dor e sofrimento das famílias brasileiras que perderam seus membros para a ditadura militar nos porões da tortura, reforçando ainda mais a necessidade da criação de uma Lei de Anistia geral e irrestrita.