Ao shopping center
Pelos teus círculos
Vagamos sem rumo
Nós almas penadas
Do mundo do consumo.
Do elevador ao céu
Pela escada ao inferno:
Os extremos se tocam
No castigo eterno.
Cada loja é um novo prego em nossa cruz.
Por mais que compremos
Estamos sempre nus
Nós que por teus círculos
Vagamos sem perdão
À espera (até quando?)
Da Grande Liquidação.
(In PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 73)
A crítica à sociedade de consumo, feita no poema de José Paulo Paes, está adequadamente explicada em:
Atento às características do mundo moderno, o poeta enaltece, por meio de uma ode, a existência de novos espaços públicos e objetos de consumo.
Recorrendo ao dualismo típico da poesia renascentista, o eu poético contrasta a realização pessoal pelo poder de compra e o desequilíbrio emocional decorrente de um comportamento obsessivo.
Trata-se de um elegia (poesia de tom terno e triste) na qual o eu poético lamenta o consumo compulsivo que provoca sofrimentos que se estendem como tormentos por toda a vida de uma pessoa.
Empregando versos em redondilha menor, José Paulo Paes cria um poema gótico no qual mostra clientes dos shoppings como almas penadas que vagueiam sem rumo.
Ao fazer uma ode ao shopping center, José Paulo Paes recorre à ironia, articulando dois universos distintos: o comercial e o religioso.