Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
(Melhores poemas, 2000.)
A preocupação formal com a musicalidade dos versos é confirmada pelo emprego da
metáfora em “Não basta o afeto simples e sagrado”.
aliteração em “Ter na boca a doçura de teu beijo”.
prosopopeia em “Com que das desventuras me protejo”.
hipérbole em “Ao coração que sofre, separado / Do teu”.
antítese em “Ficar na terra e humanamente amar”.