As questões de número 01 a 17 referem-se ao texto abaixo.
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Os tempos da vida
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Moacyr Scliar
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01 ---No colégio, uma de nossas principais (e mais difíceis) tarefas era aprender a conjugar os
02 ---verbos. Conjugar os verbos já não é mais uma condição para passar de ano; mas agora me
03 ---parece uma coisa muito simbólica. Conjugar verbos é conjugar a vida. Em primeiro lugar por
04 ---causa das pessoas verbais. Começamos, e isso é muito significativo, com a primeira pessoa: eu.
05 ---Um resultado indireto do instinto de preservação que existe em cada indivíduo. Lutamos pela
06 ---vida; lutamos para nos afirmar. Na sociedade em que vivemos, esse instinto gerou um
07 ---verdadeiro culto do ego, mas, felizmente para nós, a conjugação dos verbos não se esgota na
08 ---primeira pessoa. Logo em seguida vem o "tu" (viva o Rio Grande, que preserva esse pronome!) e
09 ---isso muda por completo o panorama de nossas relações. O relacionamento, diz-nos
10 ---notável filósofo da convivência, e do pacífismo, Martin Buber, acontece entre o Eu e o Tu, e se
11 ---faz através do encontro, do diálogo, e da responsabilidade mútua: é uma intersubjetividade, não
12 ---uma subjetividade exclusiva e frenética. Depois, temos o "ele”: este ser distante que não está no
13 ---diálogo, mas que também existe e precisa ser lembrado. O mérito do "nós" é óbvio, mas
14 ---confesso que não gosto muito do "vós", cerimonioso e reverente demais; prefiro o "vocês". E
15 ---“eles" nos lembra — multidão de pessoas com quem temos pouco ou nenhum contato, uma
16 ---realidade que deveria nos tornar mais humildes.
17 ---Estudando a conjugação dos verbos descobriamos que, como diz a Bíblia no Eclesiastes
18 ---("Há um tempo para tudo”), existem tempos verbais para todas — fases da cronologia humana,
19 ---Em primeiro lugar temos o presente, o tempo no qual vivemos, e que nos recorda a
20 ---recomendação do poeta Horácio: "Carpe diem”, curte o dia, desfruta o dia. O passado já passou,
21 ---o futuro é incerto, o momento é agora, é o presente. Mas, Horácio à parte, o passado está em
22 ---nós, como estava nas páginas da gramática. E do passado havia variedades com nomes
23 ---a começar pelo passado perfeito: “eu amei”. Admitindo que a perfeição exista, o
24 ---que é muito duvidoso, por que é perfeito, esse passado? E por que "eu amava” é um passado
25 ---imperfeito? E, mais surpreendente ainda, o que quer dizer um "passado mais que perfeito”, no
26 ---qual"eu amara"”? Mistérios — e existenciais. Que não se esgotavam aí: logo depois,
27 ---na conjugação, vinha o futuro. Tempo otimista, promissor: "eu amarei”. Meninos, acreditáavamos
28 ---nisso, acreditávamos que passaríamos o futuro amando, o que não era nada mau. Mas então
29 ---surgia, na gramática, uma coisa chamada "futuro do pretérito”. Parece um oximoro: como pode o
30 ---pretérito, o passado, ter um futuro? Mas o antigo nome desse tempo verbal, condicional,
31 ---explicava-o: era algo que poderia ter acontecido: "eu amaria”. Eu amaria, se encontrasse a
32 ---mulher de meus sonhos.
33 ---Ah, sim, e temos o imperativo, expressão verbal do autoritarismo que está em todos nós,
34 ---e o infinitivo, e o gerúndio, muito usado no Brasil porque é o símbolo da postergação, do
35 ---adiamento ("estou providenciando"), e o particípio passado, mais — ('tá falado”). Os
36 ---tempos verbais nos falam na vida. Vamos lembrar: é bom aprender — conjugar a vida. Não se
37 ---trata de nenhum exame, de nenhum Enem. É muito mais que isso.
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E. Z https:/gauchazh.clcrbs.com.bridonnainoticia/2010/01/moacyr-soliar-os-tempos-da-vidacipmingso0009 icngzfpênib.htmi> (adaptado)
Ao citar a palavra “oximoro”, linha 29, o narrador faz alusão
a uma figura que consiste na combinação de frases ou palavras que se opõem sintaticamente.
a uma figura que consiste na combinação de frases ou palavras que se opõem semanticamente.
ao instrumento fotoelétrico utilizado para fazer oximetria.
ao nome genérico que se dá aos ácidos oxigenados.
à mistura de oxigênio e acetileno para uso em maçaricos.