Angela Davis, filósofa e ativista norte-americana, é uma grande crítica do marxismo ortodoxo que defende a primazia da questão de classe sobre as outras opressões, como as de gênero e racial. Segundo ela “Claro que raça é importante. É preciso compreender que classe informa a raça. Mas raça, também, informa a classe. E gênero informa a classe. Raça é a maneira como a classe é vivida. Da mesma forma que gênero é a maneira como a raça é vivida. A gente precisa refletir bastante para perceber as intersecções entre raça, classe e gênero, de forma a perceber que entre essas categorias existem relações que são mútuas e outras são cruzadas. Ninguém pode assumir a primazia de uma categoria sobre as outras”. (DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016, p. 12-13)
Acerca da noção de interseccionalidade entre os conceitos de classe, raça e gênero abordados, no texto acima, é correto afirmar que:
o termo e a problemática da "interseccionalidade" surgem, nos anos 2000, como reação dos movimentos sociais de mulheres negras à violência e às desigualdades salariais, caracterizando-se por discutir: a) a posição das mulheres de cor, na intersecção da raça e do gênero, e as consequências sobre a experiência da violência conjugal e do estupro, assim como as formas de resposta a tais violências ("interseccionalidade estrutural"), e b) as políticas feministas e as políticas antirracistas que têm como consequência a marginalização da questão da violência em relação às mulheres de cor ("interseccionalidade política").
o interesse teórico e epistemológico pela interseccionalidade entre classe, raça e gênero se deve aos achados de pesquisas que olham, principalmente, para as diferenças de rendimento entre homens brancos e negros exercendo a mesma ocupação.
a crítica à noção de interseccionalidade está em seu recorte "simétrico”, segundo o qual as diferenças são pensadas em termos de equivalência conceitual. Ignorando-se, assim, o debate sobre as diferentes formas de expressão da violência e as dimensões materiais da dominação.
a interseccionalidade remete a uma teoria transdisciplinar que visa apreender a complexidade das identidades e das desigualdades sociais, por intermédio de um enfoque que distingue os grandes eixos da diferenciação social, que são as categorias de sexo/gênero, classe, raça, etnicidade, idade, deficiência e orientação sexual.
o ponto essencial da crítica ao conceito de interseccionalidade é que a análise interseccional não parte das relações sociais fundamentais (sexo, classe, raça), em toda sua complexidade e dinâmica. Uma vez que coloca em jogo, em geral, mais o par gênero-raça, deixando a dimensão classe social em um plano menos visível.