Andei longes terras,
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimorés;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes – escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz.
Aos golpes do imigo
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo,
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d’espinhos
Chegamos aqui!
Glossário:
Aimorés: índios botocudos que habitavam o estado da Bahia e do Espírito Santo
Timbiras: Tapuias que habitavam o interior do Maranhão
Ignavos: fracos, covardes
Piaga: pajé, chefe espiritual
Maracá: chocalho indígena utilizado em festas religiosas e cerimônias guerreiras
Talados: devastados
Acerbo: terrível, cruel
Ínvios: intransitáveis
Tendo em vista as estrofes acima transcritas, é correto afirmar que
o índio Tupi descreve as vitórias de sua tribo sobre o colonizador europeu.
o ritual antropofágico é representado como uma manifestação da barbárie indígena.
a submissão das nações indígenas pelo homem branco é considerada um processo natural e desejável para o progresso da nova nação independente.
o ponto de vista a partir do qual se elabora o poema é o do europeu português, que condena as práticas bárbaras e violentas das nações indígenas brasileiras.
as práticas colonizadoras portuguesas que levaram ao quase extermínio da nação Tupi são julgadas do ponto de vista do próprio índio.