Analise:
Eu vou te contar que você não me conhece,
E eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não
Me ouve.
A sedução me escraviza a você
Ao fim de tudo você permanece comigo mas preso ao que
Eu criei
E não a mim.
E quanto mais falo sobre a verdade inteira um abismo
Maior nos separa.
Você não tem um nome, eu tenho.
Você é um rosto na multidão e eu sou o centro das
Atenções.
Mas a mentira da aparência do que eu sou,
E a mentira da aparência do que você é.
Porque eu,
Eu não sou o meu nome,
E você não é ninguém.
O jogo perigoso que eu pratico aqui,
Ele busca chegar ao limite possível de aproximação,
Através da aceitação da distância e do reconhecimento
Dela.
Entre eu e você existe
A notícia que nos separa
Eu quero que você me veja nu
Eu me dispo da notícia
E a minha nudez parada
Te denuncia e te espelha
Eu me delato
Tu me relatas
Eu nos acuso e confesso por nós
Assim me livro das palavras
Com as quais
Você me veste!
Texto e música do CD Pássaro da Manhã de 1977. Poema de Fauzi Arap com Fundo Musical Jogo de Damas – recitado porMaria Bethânia.
A partir da leitura do poema do renomado autor e diretor de teatro Fauzi Arap, falecido aos 75 anos, em 05/12/2013, é possível dizer que:
Trata-se de um poema cuja temática é o sentimento moderno que o homem possui a respeito da sua relação com o outro, um dos temas recorrentes na literatura brasileira.
O sujeito social não é uma construção discursiva bipartida, cuja constituição se dá na junção de sua visão de si e da visão do outro sobre esse sujeito.
Embora seja um poema pós-moderno, assemelha-se aos poemas da segunda fase do modernismo, e amplia a temática da inquietação filosófica vista na primeira fase.
A nudez, embora revestida de uma característica altamente poetizada e erudita, revela o desejo físico, carnal, que reveste qualquer relação amorosa.