Instrução: As questões de números 01 a 10 referem-se ao texto abaixo. Os destaques ao longo do texto estão citados nas questões.
Duas vezes que parti sem dizer adeus
Por Jeferson Tenório
01 ____ Sempre achei que alguém deveria escrever a história dos pais separados que vão visitar
02 seus filhos. Dos pais que convivem diariamente com a falta. Uma história dos pais fracos que
03 enjoam nos ônibus e que tem medo de avião. Tenho um filho. O nome dele é João. Não mora
04 comigo. Vive em Santa Catarina. Uma vez por mês viajo para vê-lo. Ele ainda não completou
05 três anos. Nas primeiras viagens, cada vez que o ônibus fazia uma curva, eu quase vomitava.
06 Passados três anos e dezenas de idas e vindas na BR 101, construí uma fortaleza no estomago.
07 Dostoiéviski tinha razão: a maior qualidade de homem é a de se habituar a tudo. Eu, no entanto,
08 ainda não domei os aviões.
09 ____ Antes de mais nada, quero adiantar que não sou escritor. Um escritor escreve. Eu escrevo,
10 mas não me sinto um profissional nisso. Por outro lado, creio que não preciso da chancela de um
11 editor para continuar escrevendo. Não tenho ideia se o que escrevo é bom. Embora eu devesse
12 saber disso, pois ensino literatura. Sou formado em Letras e isso parece me autorizar a criticar
13 o texto dos outros. Já imitei muita gente antes de desistir de ser escritor. Agora eu tenho um
14 diário e isso me basta. Este texto é um fragmento dele. Não vivo de escrever. Faço rascunhos e
15 observo ___ coisas. Estou bem assim. Com o tempo, a gente aceita a possibilidade de não ser
16 mais um vencedor e de querer dizer as verdades.
17 ____ Como não sei se escrevo bem, criei uma espécie de máquina dentro de mim que chamo
18 de “autocrítica”. Eu a treinei para captar as besteiras que ponho no papel. Mas, por vezes, a
19 máquina falha e passo a ter menosprezo por algumas palavras que saem da minha cabeça e é
20 isso que me dói. Antes me doía não ser bom como o Dostoiéviski, agora só me dói não ter o que
21 dizer quando preciso dizer.
22 ____ Meu filho está crescendo longe de mim. Não quero drama nem lamentações, por isso
23 tenho este diário. É o meu modo de preencher a falta. Sei que o que escrevo não é nada perto
24 de tudo que já se fez. O que não faz dessas palavras algo menos importante, pois este texto
25 será lido por algumas pessoas, alguns amigos e talvez meu filho. Para mim, o João lendo, é o
26 suficiente. Sinceramente, não sei se o que acontece na nossa vida é uma história que merece
27 ser contada. Nem sei se tenho uma história para contar. Não sei se este diário vale ___ pena. O
28 que sei é já tive de voltar a Porto Alegre em silêncio com um pranto amarrado nos olhos ao sair
29 escondido, porque não queria ver o João chorar na despedida.
30 ____ Eu nunca pensei em ser pai. Sempre achei que ter um filho era uma coisa para os outros.
31 Eu tive um colega na escola, o André. Ele teve um filho quando estava no ensino médio. O André
32 parou de estudar e eu fui ao hospital ver a criança. Foi assustador. O André só tinha 16 anos. A
33 mãe tinha 15. Todos diziam que eles tinham estragado o futuro deles. Ainda acompanhei o André
34 por algum tempo. Ele trabalhou em um posto de gasolina da BR. Um ano depois eles se separam
35 e o André começou a pagar uma pensão, mas nunca mais quis ver o filho. Agora ele tem outra
36 família, tem mais dois filhos. E assim é.
37 ____ Uma coisa é certa: os pais sempre serão os culpados pela má formação dos filhos. Pais
38 sempre erram. Com os filhos a gente nunca ensina nada direito. A gente só aprende. Quando se
39 põe um filho no mundo a gente pensa que pode defendê-lo de tudo, chegamos a achar que
40 somos eternos, que os filhos serão sempre pequenos e vão nos amar todo o tempo. ___ vezes
41 os filhos, na vida adulta, nos perdoam pelas burradas que fizemos e então seguimos. Noutras,
42 não há tempo para nada, nem para o perdão nem para o amor. Aí a vida vai passando,
43 envelhecemos e depois temos de morrer para que os filhos sigam e conheçam a vida sozinhos.
(Disponível em: https://palavraria.wordpress.com/2013/01/19/a-cronica-de-jeferson-tenorio-das-vezesque-parti-sem-dizer-adeus/ – texto adaptado especialmente para esta prova).
Analise as assertivas a seguir considerando a palavra “menosprezo” (l. 19):
I. Esse substantivo pertence à mesma família de palavras do verbo “menosprezar”.
II. Adjetivos relacionados a esse substantivo são “menosprezável” e “menosprezível”.
III. O substantivo pode ser classificado como próprio e abstrato.
Quais estão corretas?
Apenas I.
Apenas II.
Apenas I e II.
Apenas I e III.
Apenas II e III.