Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
(Florbela Espanca. Sonetos,1998.)
No soneto, verifica-se a ocorrência de
metonímia em “Amar! Amar! E não amar ninguém!”.
metáfora em “Eu quero amar, amar perdidamente!”.
gradação em “E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada”.
comparação em “Que me saiba perder... pra me encontrar...”.
hipérbato em “Amar só por amar: Aqui... além...”.