Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência a vossa!
Todo o sentido da vida
principia a vossa porta:
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil, como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
MEIRELLES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento).
O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem:
A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das palavras.
As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das palavras.
O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da luta do homem pela vida.
Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e suas crenças.
Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos.
Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.