Agachado atrás dum muro, José Lírio preparava-se para a última corrida. Quantos passos dali até à igreja? Talvez uns dez ou doze, bem puxados. Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz. "Tenente Liroca − dissera-lhe o coronel, havia poucos minutos − suba pro alto do campanário e fique de olho firme no quintal do Sobrado. Se alguém aparecer pra tirar água do poço, faça fogo sem piedade."
[...]
Os segundos passavam. Era preciso cumprir a ordem. Liroca não queria que ninguém percebesse que ele hesitava, que era um covarde. Sim, covarde. Podia enganar os outros, mas não conseguia iludir-se a si mesmo. Estava metido naquela revolução porque era federalista e tinha vergonha na cara. Mas não se habituava nunca ao perigo. Sentira medo desde o primeiro dia, desde a primeira hora − um medo que lhe vinha de baixo, das tripas, e lhe subia pelo estômago até a goela, como uma geada, amolecendo-lhe as pernas, os braços, a vontade. Medo é doença; medo é febre.
(VERÍSSIMO, Érico. O tempo e o vento. In: O Continente, parte 1. São Paulo: Círculo do livro, 1997. p. 9)
O segmento em que uma forma verbal indica ação passada que se deu anteriormente a outra ação igualmente passada é:
José Lírio preparava-se para a última corrida.
Era preciso cumprir a ordem.
Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz.
Liroca não queria que ninguém percebesse que ele hesitava, que era um covarde.
Podia enganar os outros, mas não conseguia iludir-se a si mesmo.