Advento da pólis, nascimento da filosofia: entre as duas ordens de fenômenos, os vínculos são demasiado estreitos para que o pensamento racional não apareça, em suas origens, solidário das estruturas sociais e mentais próprias da cidade grega. Assim recolocada na história, a filosofia despoja-se desse caráter de revelação absoluta, que, às vezes, lhe foi atribuído, saudando, na jovem ciência dos jônios [gregos], a razão intemporal que veio encarnar-se no Tempo. A escola de Mileto não viu nascer a Razão; ela constituiu uma Razão, uma primeira forma de racionalidade. Essa razão grega não é a razão experimental da ciência contemporânea, orientada para a exploração do meio físico e cujos métodos, instrumentos intelectuais e quadros mentais foram elaborados, no curso dos últimos séculos, no esforço laboriosamente continuado para conhecer e dominar a Natureza. Quando define o homem como animal político, Aristóteles sublinha o que separa a razão grega da de hoje. Se o homo sapiens é, a seus olhos, um homo politicus, é que a própria Razão, em sua essência, é política.
Jean-Pierre Vernant. As origens do pensamento grego. 9.ª ed., Rio de Janeiro: Betrand, 1996, p. 94 (com adaptações).
Tendo como referência o texto acima, assinale a opção correta no item.
Ao apresentar a distinção entre uma razão intemporal, ou seja, uma razão “revelada” e uma razão historicamente “constituída”, o autor do texto
estabelece os limites da razão grega, que não chegou a ser a razão experimental da ciência moderna.
postula que o advento da filosofia foi, antes de tudo, um acontecimento histórico ligado ao contexto geral da criação das cidades gregas.
demonstra que a revelação filosófica grega permitiu o advento de um homo politicus, o homem da polis grega.
separa a racionalidade concebida na Grécia Antiga da racionalidade moderna, ao delimitar formas de atuação política.