Acrobata da Dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche¹, salta clown, varado
pelo estertor² dessa agonia lenta ...
Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d’aço...
E embora caias sobre o chão, fremente³,
afogado em teu sangue estuoso4 e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.
(Cruz e Sousa)
¹gavroche: garotos de Paris, figuradamente artista.
²estertor: respiração anormal própria de moribundos.
³fremente: vibrante, agitado, violento.
4estuoso: que ferve, ardente, febril
Fazendo uma análise mais detalhada do soneto, assinale a afirmação incorreta:
ao longo do texto, constata-se que o acrobata da dor, desempenhando o papel de um triste e sofrido palhaço, é metáfora do próprio coração.
o acrobata precisa acolher a manifestação da audiência e seguir desempenhando seu papel, mesmo que o leve à morte.
essa espécie de clown, que vive de agradar às multidões, paga um preço alto: a ocultação de sua dor interior.
cena grotesca, o bis é a sedução da plateia que acaba conduzindo o acrobata para a tragédia.
a plateia pedindo bis corresponde à elite política que exige do cidadão, em sua luta diária, as maiores acrobacias.