FAMEMA 2018

  A voz rouca e arrastada parecia vir de outro mundo. Eram pontualmente nove horas da manhã do dia 1o de janeiro de 1946 quando ela soou nos alto-falantes dos rádios de todo o Japão. A pronúncia das primeiras sílabas foi suficiente para que 100 milhões de pessoas identificassem quem falava. Era a mesma voz que quatro meses antes se dirigira aos japoneses, pela primeira vez em 5 mil anos de história do país, para anunciar que havia chegado o momento de “suportar o insuportável”: a rendição do Japão às forças aliadas na Segunda Guerra Mundial. Mas agora o dono da voz, Sua Majestade o imperador Hiroíto, tinha revelações ainda mais espantosas a fazer a seus súditos. Embora ele falasse em keigo − uma forma arcaica do idioma, reservada aos Filhos dos Céus e repleta de expressões chinesas que nem todos compreendiam bem −, todos entenderam o que Hiroíto dizia: ao contrário do que os japoneses acreditavam desde tempos imemoriais, ele não era uma divindade. O imperador leu uma declaração de poucas linhas, escrita de próprio punho. Aquela era mais uma imposição dos vencedores da guerra. Entre as exigências feitas pelos Aliados para que ele permanecesse no trono, estava a “Declaração da Condição Humana”. Ou seja, a renúncia pública à divindade, que naquele momento Hiroíto cumpria resignado:

  “Os laços que nos unem a vós, nossos súditos, não são o resultado da mitologia ou de lendas. Não se baseiam jamais no falso conceito de que o imperador é deus ou qualquer outra divindade viva.”

  Petrificados, milhões de japoneses tomaram consciência da verdade que ninguém jamais imaginara ouvir: diferentemente do que lhes fora ensinado nas escolas e nos templos xintoístas, Hiroíto reconhecia que era filho de dois seres humanos, o imperador Taisho e a imperatriz Sadako, e não um descendente de Amaterasu Omikami, a deusa do Sol. Foi como se tivessem jogado sal na ferida que a rendição, ocorrida em agosto do ano anterior, havia aberto na alma dos japoneses. O temido Exército Imperial do Japão, que em inacreditáveis 2600 anos de guerras jamais sofrera uma única derrota, tinha sido aniquilado pelos Aliados. O novo xogum, o chefe supremo de todos os japoneses, agora era um gaijin, um estrangeiro, o general americano Douglas MacArthur, a quem eram obrigados a se referir, respeitosamente, como Maca-san, o “senhor Mac”. Como se não bastasse tamanho padecimento, o Japão descobria que o imperador Hiroíto era apenas um mortal, como qualquer um dos demais 100 milhões de cidadãos japoneses.

(Corações sujos, 2000.)

 

Segundo o texto,

a

o anúncio de que o imperador era humano, e não divino, era uma consequência previsível, para os japoneses, da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, anunciada pouco tempo antes. 

b

o anúncio de que o imperador era humano, e não divino, fez mais intensa a dor provocada, pouco tempo antes, pelo anúncio da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. 

c

o anúncio da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial aumentou o mal-estar da população japonesa causado pelo anúncio de que o imperador era humano, e não divino. 

d

o anúncio de que o imperador era humano, e não divino, funcionou, para os japoneses, como preparativo para o anúncio da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. 

e

o anúncio da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial produziu, para a população japonesa, a desconfiança de que pouco depois aconteceria o anúncio de que o imperador era humano, e não divino.

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B
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