A vestibulanda e a 'dor que desatina sem doer' de Camões
Numa prova do vestibular da Universidade da Bahia, foi exigida dos candidatos a interpretação destes versos de Camões:
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente,
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
Uma vestibulanda de 16 anos interpretou-os assim:
Ah! Camões,
se vivesses hoje em dia,
tomavas uns antipiréticos,
uns quantos analgésicos
e Prozac para a depressão.
Compravas um computador,
consultavas a Internet
e descobririas que as dores que sentias,
esses calores que te abrasavam,
essas mudanças de humor repentinas,
esses desatinos sem nexo,
não eram feridas de amor,
mas somente falta de sexo.
A menina baiana ganhou nota 10. Comentário: foi a primeira vez que, ao longo de mais de 500 anos, alguém desconfiou que o problema de Camões era falta de mulher. E o caso, se verdadeiro (há versões de que teria acontecido em Portugal), serve para livrar a cara dos vestibulandos, só lembrados pelas suas provas lamentáveis, que invariavelmente se tornam motivos de chacota. E também da Bahia. Afinal, nem tudo lá é trio elétrico e gente pulando na rua, nos 365 dias do ano.
(http://jornalggn.com.br/noticia/a-vestibulanda-e-a-dor-que-desatina-sem-doer-de-camoes)
Confrontando-se os versos de Camões e a suposta interpretação da vestibulanda, é correto afirmar que
ao dialogar com o poema de Camões, a garota analisa o mesmo tema por uma perspectiva puramente racional do amor.
diferentemente do poema camoniano, nos versos da garota não se identifica a tentativa de harmonizar conceitos opostos.
ao trazer a temática camoniana para o contexto das tecnologias digitais, o texto da garota reverencia o sentimento amoroso.
para a garota, no mundo contemporâneo, o sofrimento amoroso encontra conforto na Medicina e nas mídias sociais.
na releitura proposta pela garota, ao contrário dos versos de Camões, não se buscam explicações para compreender o amor.
A questão pede para comparar os versos clássicos de Luís Vaz de Camões sobre o amor com a interpretação moderna e humorística atribuída a uma estudante.
1. Análise dos versos de Camões:
Camões utiliza figuras de linguagem como o paradoxo (aproximação de ideias contrárias, como "arde sem se ver", "dói e não se sente", "dor sem doer") e o oxímoro ("contentamento descontente") para expressar a natureza complexa, contraditória e muitas vezes irracional do sentimento amoroso. Ele tenta definir o amor justamente pela harmonização desses conceitos opostos.
2. Análise da interpretação da vestibulanda:
A estudante dialoga diretamente com Camões ("Ah! Camões"), mas transporta a questão para um contexto contemporâneo. Ela sugere que os "sintomas" descritos por Camões (fogo, ferida, dor, desatino, mudanças de humor) seriam hoje tratados com medicamentos (antipiréticos, analgésicos, Prozac) e que a causa raiz, descoberta via internet, seria simplesmente "falta de sexo".
A abordagem da estudante é pragmática, humorística, anacrônica e redutora. Ela desmonta a visão idealizada e complexa de Camões, oferecendo uma explicação biológica/fisiológica e soluções médicas/tecnológicas. Crucialmente, ela não utiliza paradoxos ou tenta harmonizar opostos; pelo contrário, ela simplifica e oferece uma única causa.
3. Avaliação das alternativas:
Conclusão: A alternativa B descreve com precisão a diferença fundamental na abordagem dos dois textos: a presença da tentativa de harmonizar conceitos opostos em Camões e a ausência dessa característica na releitura da estudante.
Para resolver esta questão, é importante revisar: