[...] a tribo não possui um rei, mas um chefe que não é chefe
de Estado. O que significa isso? Simplesmente que o chefe não
dispõe de nenhuma autoridade, de nenhum poder de coerção, de
nenhum meio de dar uma ordem. O chefe não é um comandante,
as pessoas da tribo não têm nenhum dever de obediência.
O espaço da chefia não é o lugar do poder [...]. A propriedade
mais notável do chefe indígena consiste na ausência quase
completa de autoridade. [...] O chefe é um fazedor de paz; ele é a
instância moderadora do grupo [...]. Ele deve apaziguar as
disputas, regular as divergências, não usando de uma força que
não possui e que não seria reconhecida. [...] Os meios que o
chefe detém para realizar sua tarefa de pacificador limitam-se ao
uso exclusivo da palavra: não para arbitrar entre as partes
opostas, pois o chefe não é um juiz e não pode se permitir tomar
partido por um ou por outro, mas para, armado apenas de sua
eloquência, tentar persuadir as pessoas da necessidade de se
apaziguar [...].
CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o estado. São Paulo: COSAC NAIFY, 2012 (adaptado).
O texto enfatiza uma característica dos povos nativos da América que, em geral, era interpretada pelos colonizadores como
uma alternativa ao modelo de estado absolutista despótico.
um modelo de organização social avançado que prescindia a existência do estado.
uma fraqueza, pois denotava a falta de organização política nos moldes europeus.
uma forma de organização social mais útil aos interesses colonialistas do que o modelo africano.
um modelo perigoso e que deveria ser submetido aos interesses e padrões do colonialismo europeu.