Texto para responder às questões 4 e 5.
1 Mas não há casa-grande sem a senzala, e foi em torno
desse duo, que parece composto de opostos, porém na
verdade abrange partes contíguas, que Gilberto Freyre
4 publicou, em 1933, seu clássico Casa-grande & senzala,
evidenciando as contradições e relações que se
estabeleciam entre senhores e escravos. O próprio “&” do
7 título original já revela como o antropólogo pernambucano
entendia a importância da correlação entre esses dois
extremos. “Equilíbrio de antagonismos de economia e de
10 cultura” foi a expressão utilizada por ele para demonstrar
como paternalismo e violência, mas também negociação de
parte a parte, coexistiam nesse cotidiano.
13 \(\quad \quad\) “Senzala” é um termo do quimbundo que significa
“residência de serviçais em propriedades agrícolas”, ou
“morada separada da casa principal”. Nas senzalas da cana
16 residiam dezenas de escravos, que podiam chegar às
centenas, com frequência presos pelos pés e braços,
deitados em chão de terra e em péssimas condições de
19 higiene ‒ como ter numerosos escravos era sinal de
prosperidade e abastança, o senhor preferia quantidade a
qualidade. As circunstâncias variavam: por vezes os
22 escravos eram alojados coletivamente; em outras situações
foram achados registros de barracões distintos para homens
e para mulheres, e em alguns casos até mesmo alojamentos
25 para casais com filhos. No Nordeste, o mais normal era
encontrar barracas contíguas, dispostas em filas e a certa
distância da casa-grande. As senzalas eram trancadas à
28 noite por feitores, a fim de evitar fugas e de estabelecer
disciplina, pois dessa maneira se determinava o horário de
se recolher e de despertar. [...]
31 Por sinal, diversos elementos faziam parte da
performance de senhor “aristocrata”: as roupas, a mobília,
os cavalos puros-sangues, a alfabetização numa terra de
34 iletrados, a capacidade de mando. [...] Na medida em que
eram considerados pagãos, tanto indígenas como africanos,
apesar de batizados e transformados em vassalos,
37 continuavam sem direitos. Dessa forma, as divisões entre
“gentios” e “índios aldeados”, ou entre “africanos”,
“boçais” (aqueles recém-chegados) e “ladinos”
40 (aculturados), representavam gradações culturais que
demarcavam hierarquias internas, as quais, no limite,
implicavam maior ou menor exclusão social. Os mais de
43 dentro e os mais de fora.
[...] Essas populações podiam ser denominadas
simplesmente mestiças (provenientes de uniões entre
46 escravos e seus senhores); cabras (termo que quase sempre
se referia à mistura do índio com o negro); morenas
(palavra que vem de “mouro” mas guarda antes o
49 significado “de cor escura”), ou pardas: a cor parda ainda
hoje consta no censo brasileiro, e mais parece um
“nenhuma das anteriores”, um grande et cetera ou um
52 coringa da classificação.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma
biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, com adaptações.
A respeito dos recursos linguísticos presentes no texto, julgue (C ou E) os itens a seguir.
A substituição de “puros-sangues” (linha 33) por puros-sangue manteria a correção quanto ao emprego de plural desse adjetivo.
Certo
Errado