USF 2010/2

Vinícius de Moraes tem a religiosidade e o misticismo como ponto marcante de suas obras de estreia. Essa fase transcendental, mística, é o resultado de sua fase cristã. Afastando um pouco esses temas, o poeta terá como assuntos predominantes a mulher, o amor, o cotidiano, com linguagem ao mesmo tempo realista, coloquial e lírica.

Nos inúmeros poemas de amor que escreveu, deu preferência ao soneto e, frequentemente, empregou antíteses para as contradições próprias do sentimento que é poderoso e fugaz, ao mesmo tempo. Um bom exemplo é o Soneto de Separação: “Fez-se de triste o que se fez amante / E de sozinho o que se fez contente.”

O aspecto politizado do poeta é mostrado no poema O operário em construção, em que o processo de tomada de consciência fica bem marcado. “De forma que, certo dia / À mesa, ao cortar o pão / O operário foi tomado / De uma súbita emoção / Ao constatar assombrado / Que tudo naquela mesa / – Garrafa, prato, facão – / Era ele quem os fazia / Ele, um humilde operário, / Um operário em construção.”

Além de poeta, Vinícius de Moraes é compositor da música popular brasileira, um dos fundadores do movimento musical Bossa Nova. Também se envolveu na carreira diplomática, no jornalismo, quando exerceu a função de cronista e crítico de cinema.

Nos seus melhores poemas (consagrados pela crítica especializada), o poeta sempre mantém a métrica, a rima, as estrofes regulares e uma linguagem bastante apurada. “Quem pagará o enterro e as flores / Se eu me morrer de amores? / Quem, dentre amigos, tão amigo / Para estar no caixão comigo? / Quem, em meio ao funeral / Dirá de mim: – Nunca fez mal... / Quem, bêbado, chorará em voz alta / De não me ter trazido nada?/