ITA 2008

A questão refere-se ao texto seguinte.

 

  Com um pouco de exagero, costumo dizer que todo jogo é de azar. Falo assim referindo-me ao futebol
que, ao contrário da roleta ou da loteria, implica tática e estratégia, sem falar no principal, que é o talento e a
habilidade dos jogadores. Apesar disso, não consegue eliminar o azar, isto é, o acaso.
  E já que falamos em acaso, vale lembrar que, em francês, “acaso” escreve-se “hasard”, como no
[5] célebre verso de Mallarmé, que diz: “um lance de dados jamais eliminará o acaso”. Ele está, no fundo,
referindo-se ao fazer do poema que, em que pese a mestria e lucidez do poeta, está ainda assim sujeito ao
azar, ou seja, ao acaso.
  Se no poema é assim, imagina numa partida de futebol, que envolve 22 jogadores se movendo num
campo de amplas dimensões. Se é verdade que eles jogam conforme esquemas de marcação e ataque,
[10] seguindo a orientação do técnico, deve-se no entanto levar em conta que cada jogador tem sua percepção da
jogada e decide deslocar-se nesta ou naquela direção, ou manter-se parado, certo de que a bola chegará a
seus pés. Nada disso se pode prever, daí resultando um alto índice de probabilidades, ou seja, de ocorrências
imprevisíveis e que, portanto, escapam ao controle.
  Tomemos, como exemplo, um lance que quase sempre implica perigo de gol: o tiro de canto. Não é à
[15] toa que, quando se cria essa situação, os jogadores da defesa se afligem em anular as possibilidades que têm
os adversários de fazerem o gol. Sentem-se ao sabor do acaso, da imprevisibilidade. O time adversário
desloca para a área do que sofre o tiro de canto seus jogadores mais altos e, por isso mesmo, treinados para
cabecear para dentro do gol. Isto reduz o grau de imprevisibilidade por aumentar as possibilidades do time
atacante de aproveitar em seu favor o tiro de canto e fazer o gol. Nessa mesma medida, crescem, para a
[20] defesa, as dificuldades de evitar o pior. Mas nada disso consegue eliminar o acaso, uma vez que o batedor do
escanteio, por mais exímio que seja, não pode com precisão absoluta lançar a bola na cabeça de determinado
jogador. Além do mais, a inquietação ali na área é grande, todos os jogadores se movimentam, uns tentando
escapar à marcação, outros procurando marcá-los. Essa movimentação, multiplicada pelo número de
jogadores que se movem, aumenta fantasticamente o grau de imprevisibilidade do que ocorrerá quando a bola
[25] for lançada. A que altura chegará ali? Qual jogador estará, naquele instante, em posição propícia para
cabeceá-la, seja para dentro do gol, seja para longe dele? Não existe treinamento tático, posição privilegiada,
nada que torne previsível o desfecho do tiro de canto. A bola pode cair ao alcance deste ou daquele jogador e,
dependendo da sorte, será gol ou não.
  Não quero dizer com isso que o resultado das partidas de futebol seja apenas fruto do acaso, mas a
[30] verdade é que, sem um pouco de sorte, neste campo, como em outros, não se vai muito longe; jogadores,
técnicos e torcedores sabem disso, tanto que todos querem se livrar do chamado “pé frio”. Como não pretendo
passar por supersticioso, evito aderir abertamente a essa tese, mas quando vejo, durante uma partida, meu
time perder “gols feitos”, nasce-me o desagradável temor de que aquele não é um bom dia para nós e de que
a derrota é certa.
[35]   Que eu, mero torcedor, pense assim, é compreensível, mas que dizer de técnicos de futebol que vivem
de terço na mão e medalhas de santos sob a camisa e que, em face de cada lance decisivo, as puxam para
fora, as beijam e murmuram orações? Isso para não falar nos que consultam pais-de-santo e pagam
promessas a Iemanjá. É como se dissessem: treino os jogadores, traço o esquema de jogo, armo jogadas,
mas, independentemente disso, existem forças imponderáveis que só obedecem aos santos e pais-de-santo;
[40] são as forças do acaso.
  Mas não se pode descartar o fator psicológico que, como se sabe, atua sobre os jogadores de qualquer
esporte; tanto isso é certo que, hoje, entre os preparadores das equipes há sempre um psicólogo. De fato, se
o jogador não estiver psicologicamente preparado para vencer, não dará o melhor de si.
  Exemplifico essa crença na psicologia com a história de um técnico inglês que, num jogo decisivo da
[45] Copa da Europa, teve um de seus jogadores machucado. Não era um craque, mas sua perda desfalcaria o
time. O médico da equipe, depois de atender o jogador, disse ao técnico: “Ele já voltou a si do desmaio, mas
não sabe quem é”. E o técnico: “Ótimo! Diga que ele é o Pelé e que volte para o campo imediatamente”. 

(Ferreira Gullar. Jogos de azar. Em: Folha de S. Paulo, 24/06/2007.)

Assinale a opção em que a palavra em destaque permite duplo sentido.

a

Se no poema é assim, imagina numa partida de futebol, que envolve 22 jogadores se movendo num campo de amplas dimensões. (linhas 8 e 9) 

b

[...] o batedor do escanteio, por mais exímio que seja, não pode com precisão absoluta lançar a bola na cabeça de determinado jogador. (linhas 20 a 22) 

c

A bola pode cair ao alcance deste ou daquele jogador e, dependendo da sorte, será gol ou não. (linhas 27 e 28) 

d

[...] a verdade é que, sem um pouco de sorte, neste campo, como em outros, não se vai muito longe [...] (linhas 29 e 30) 

e

De fato, se o jogador não estiver psicologicamente preparado para vencer, não dará o melhor de si. (linhas 42 e 43)

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D
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