A questão refere-se ao texto “O valor da verdade na era do fake news”.
O valor da verdade na era do fake news
O jornalismo, não como empresa, mas como instituição, precisa criar um escudo para se proteger dessas práticas obscuras
[1] Já dizia o filósofo e escritor italiano Umberto Eco: “O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da
[2] verdade.” Segundo ele, os “idiotas da aldeia” tinham o direito à palavra em um bar após uma taça de vinho, mas sem prejudicar a
[3] coletividade. Com o advento das redes sociais, no entanto, hoje eles “têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”. A teoria
[4] de Eco é comprovada por um levantamento realizado pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação da USP,
[5] na semana que antecedeu a votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, em abril de 2016.
[6] A diligência, que investigou mais de 8 mil reportagens publicadas em jornais, revistas, sites e blogs no período, concluiu que três
[7] das cinco notícias mais compartilhadas no Facebook eram falsas. Juntos, os textos tiveram mais de 200 mil compartilhamentos, o que
[8] nos leva a crer que mais de 1 milhão de pessoas tenham sido impactadas por notícias falsas em menos de uma semana.
[9] A má notícia (e essa não é falsa) é que a onda de inverdades não se restringiu ao processo de impeachment de Dilma Rousseff –
[10] ela está presente em nosso dia a dia e hoje influencia discussões nas mais diferentes áreas, da política ao esporte, passando pela
[11] economia e pela cobertura ambiental. Vivemos a era do fake news, na qual blogs com interesses escusos deturparam o princípio básico
[12] do jornalismo, que é a imparcialidade, para manipular a opinião pública de acordo com os interesses de determinados grupos. Nos
[13] últimos anos, essa se tornou uma atividade altamente lucrativa – talvez até mais rentável que o jornalismo de verdade. Prova disso é
[14] que atualmente existe uma verdadeira indústria que movimenta bilhões de dólares por ano através dos fake facts.
[15] Mas nem só de blogs sujos vive o fake news. Em um momento de debates polarizados, de “nós contra eles”, muitos profissionais
[16] da área têm misturado jornalismo com ativismo, levando a desinformação até mesmo aos veículos que gozam de credibilidade junto
[17] ao seu público. O que pouca gente se dá conta é que notícias falsas ou coberturas jornalísticas tendenciosas podem afetar não somente
[18] a política, como também pessoas e empresas, destruindo a reputação e gerando prejuízos bilionários às corporações.
[19] O jornalismo, não como empresa, mas como instituição, precisa criar um escudo para se proteger dessas práticas obscuras e não
[20] ser predado pelo fake news. É cada vez mais necessário zelar pela história, pelos valores e pelos princípios dos veículos tradicionais
[21] – e sobretudo pela credibilidade conquistada por eles ao longo de décadas. Muitos desses meios de comunicação contam atualmente
[22] com checadores profissionais de informações, uma arma eficiente na busca pela diferenciação. Outros apostam em parcerias com
[23] empresas especializadas em checagem de notícias, um negócio novo, mas que se tornou altamente relevante nos dias de hoje. Até
[24] mesmo companhias como Facebook, Google e Twitter – que não produzem conteúdo, apenas os distribuem entre seus usuários – vêm
[25] investindo fortemente em ferramentas de checagem, buscando aumentar a credibilidade de seus serviços.
[26] Mas a busca pela verdade, é preciso dizer, não é uma tarefa exclusiva dos veículos de comunicação. Do lado do leitor, também é
[27] preciso cuidado para interpretar as notícias, avaliar a credibilidade de quem as veicula e, principalmente, não colaborar para a difusão
[28] de conteúdos falsos, uma tarefa que acaba dificultada pelo cunho ideológico dos principais virais. A luta contra o fake news precisa
[29] ser encarada como uma via de mão dupla. Se por um lado é preciso criar uma relação de confiança com o leitor, esse, por sua vez,
[30] precisa valorizar as fontes confiáveis. Em tempos de pós-verdade, somente o bom jornalismo pode fazer a diferença para a sociedade.
[31] Essa é a informação que vale.
(NASSAR, Paulo. O valor da verdade na era do fake news. 26/02/2018. Disponível em http://noticias.botucatu.com.br/2018/02/26/opiniao-o-valor-da-verdade-na era-do-fake-news/. Adaptado. Acessado em 25 mar. 2018)
Sobre o texto “O valor da verdade na era do fake news” e as expressões que o compõem, é incorreto afirmar:
Aldeia, além de ser uma povoação habitada apenas por índios, uma maloca ou aldeamento, também pode ser uma povoação de pequenas proporções, menor do que a vila; uma povoação rural ou povoado. Assim, quando se refere ao “idiota da aldeia” (linha 1), Umberto Eco, de forma apropriada, faz referência a um indivíduo que vive num local de dimensões não globais.
A polarização é a modificação de raios luminosos, os quais, depois de refletidos ou refratados, não podem mais refletir-se ou refratar-se em certas direções. Desse modo, ao referir “um momento de debates polarizados” (linha 15), o autor faz menção a um momento em que há debates que se refletem em diferentes áreas e posturas, o que se mostra coerente com a ideia desenvolvida.
Ativismo é uma atitude moral cujas raízes têm maior relação com a vida e com a ação do que com os princípios teóricos. Além disso, é a propaganda ativa do serviço de uma doutrina ou ideologia. Assim, ao afirmar que “muitos profissionais da área têm misturado jornalismo com ativismo” (linhas 15 e 16), o autor sugere que esses profissionais estão valendo-se da posição que ocupam para dar visibilidade a questões relacionadas às suas convicções ideológicas, não necessariamente convergentes com o caráter imparcial que deveria ser inerente ao jornalismo.
Predar significa destruir ou atacar com violência, apanhando ou matando uma presa. Predado, portanto, é aquele ou aquilo que é caçado ou destruído. Desse modo, quando afirma que o jornalismo “precisa criar um escudo para se proteger dessas práticas obscuras e não ser predado pelo fake news” (linhas 19 e 20), o autor reconhece que, caso não adote uma postura de proteção, o jornalismo será caçado pelo fake news.
Checar significa verificar, confrontar, comparar. Desse modo, em “Muitos desses meios de comunicação contam atualmente com checadores profissionais de informações” (linhas 21 e 22), o autor utilizou o termo checadores com propriedade vocabular, pois, a partir de um processo de derivação sufixal, acrescentou à palavra primitiva checar o sufixo dor(es), o que resultou na formação de um novo substantivo, que se mostrou apropriado ao contexto.