UCS Inverno 2014

A questão refere-se ao texto abaixo.

 

É urgente recuperar o sentido de urgência
Eliane Brum

 

[01]     Dias atrás, Gabriel Prehn Britto, do blog Gabriel quer viajar, tuitou a seguinte frase: “Precisamos redefinir, com
[02] urgência, o significado de URGENTE” (Caixa alta, na internet, é grito). “Parece que as pessoas perderam a noção do
[03] sentido da palavra”, comentou, quando perguntei por que tinha postado esse protesto/desabafo no Twitter. “Urgente
[04] não é mais urgente. Não tem mais significado nenhum.” Ele se referia tanto ao urgente usado para anunciar notícias
[05] nada urgentes nos sites e nas redes sociais, quanto ao urgente que invade nosso cotidiano, na forma de demanda
[06] tanto da vida pessoal quanto da profissional. Depois disso, Gabriel passou a postar uns “tuítes” provocativos, do tipo:
[07] “Urgente! Acordei” ou “Urgente: hoje é sexta-feira”.
[08]     A provocação é muito precisa. Se há algo que se perdeu nessa época em que a tecnologia tornou possível a
[09] todos alcançarem todos, a qualquer tempo, é o conceito de urgência. Vivemos ao mesmo tempo o privilégio e a
[10] maldição de experimentarmos uma transformação radical e muito, muito rápida em nosso ser/estar no mundo, com
[11] grande impacto na nossa relação com todos os outros. Como tudo o que é novo, é previsível que nos atrapalhemos.
[12] E nos lambuzemos um pouco, ou até bastante. Nessa nova configuração, parece necessário resgatarmos alguns
[13] conceitos, para que o nosso tempo não seja devorado por banalidades como se fosse matéria ordinária. E talvez o
[14] mais urgente desses conceitos seja mesmo o da urgência.
[15]     Estamos vivendo como se tudo fosse urgente. Urgente o suficiente para acessar alguém. E para exigir desse
[16] alguém uma resposta imediata. Como se o tempo do “outro” fosse, por direito, também o “meu” tempo. E até como
[17] se o corpo do outro fosse o meu corpo, já que posso invadi-lo, simbolicamente, a qualquer momento. Como se os
[18] limites entre os corpos tivessem ficado tão fluidos e indefinidos quanto a comunicação ampliada e potencializada
[19] pela tecnologia. Esse se apossar do tempo/corpo do outro pode ser compreendido como uma violência. Mas até
[20] certo ponto consensual, na medida em que este que é alcançado se abre/oferece para ser invadido. Torna-se, ao se
[21] colocar no modo “online”, um corpo/tempo à disposição. Mas exige o mesmo do outro – e retribui a possessão. Olho
[22] por olho, dente por dente. Tempo por tempo.
[23]     Como muitos, tenho tentado descobrir qual é a minha medida e quais são os meus limites nessa nova
[24] configuração. Descobri logo que, para mim, o celular é insuportável. Não é possível ser alcançada por qualquer um,
[25] a qualquer hora, em qualquer lugar. Estou lendo um livro e, de repente, o mundo me invade, em geral com
[26] irrelevâncias, quando não com telemarketing. Estou escrevendo e alguém liga para me perguntar algo que poderia
[27] ter descoberto sozinho no Google, mas achou mais fácil me ligar, já que bastava apertar uma tecla do próprio celular.
[28]     Bani do meu mundo os celulares, fechei essa janela no meu corpo. Descobri que, ao não me colocar 24 horas
[29] disponível, as pessoas se sentiam pessoalmente rejeitadas. Mas não apenas isso: elas se sentiam lesadas no seu
[30] suposto direito a tomar o meu tempo na hora que bem entendessem, com ou sem necessidade, como se não
[31] devesse existir nenhum limite ao seu desejo. Algumas se declararam ofendidas. Percebi também que, em geral, as
[32] pessoas sentem não só uma obrigação de estar disponíveis, mas também um gozo. Talvez mais gozo do que
[33] obrigação. É o que explica a cena corriqueira de ver as pessoas atendendo o celular nos lugares mais absurdos
[34] (inclusive no banheiro...). É o gozo de se considerar imprescindível.
[35]     Bem, eu não sou imprescindível a todo mundo e tenho certeza de que os dias nascem e morrem sem mim. As
[36] emergências reais são poucas, ainda bem, e para estas há forma de me encontrar. Logo, posso ficar sem celular.
[37] Mas tive de me esforçar para que as pessoas entendessem que não é uma rejeição ou uma modalidade de
[38] misantropia, apenas uma escolha. Para mim, é uma maneira de definir as fronteiras simbólicas do meu corpo, de
[39] territorializar o que sou eu e o que é o outro, e de estabelecer limites – o que me parece fundamental em qualquer
[40] vida.
[41]     A grande perda é que, ao se considerar tudo urgente, nada mais é urgente. Perde-se o sentido do que é
[42] prioritário em todas as dimensões do cotidiano. E viver é, de certo modo, um constante interrogar-se sobre o que é
[43] importante para cada um. Ou, dito de outro modo, uma constante interrogação sobre para quem e para o quê damos
[44] nosso tempo, já que tempo não é dinheiro, mas algo tremendamente mais valioso. Como disse o professor Antonio
[45] Candido, “tempo é o tecido das nossas vidas”.
[46]     Viver no tempo do outro – de todos e de qualquer um – é uma tragédia contemporânea.
Disponível em: <http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/eliane-brum/>. Acesso em: 25 mar. 14. (Adaptado)

Analise a veracidade (V) ou a falsidade (F) das afirmações a seguir com relação ao uso de pronomes no texto.

(  ) O pronome -lo em invadi-lo (linha 17) retoma a expressão meu corpo (linha 17).
(  ) O pronome isso (linha 29) retoma a ideia de a autora não estar disponível 24 horas.
( ) O pronome que (linha 39), na oração o que me parece fundamental em qualquer vida, retoma a ideia da necessidade de definição dos territórios entre as pessoas e o estabelecimento de limites entre eles.

Assinale a alternativa que preenche correta e respectivamente os parênteses, de cima para baixo.

a

V – V – V

b

F – F – V

c

V – F – F

d

F – V – F

e

V – V – F

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Resposta
B
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