A questão focalizam o romance O quinze da escritora Rachel de Queiroz (1910-2003).
O quinze caiu de repente ali por meados de 30 e fez nos espíritos estragos maiores que o romance de José Américo [A bagaceira], por ser livro de mulher e, o que na verdade causava assombro, de mulher nova. Seria realmente mulher? Não acreditei. Lido o volume e visto o retrato no jornal, balancei a cabeça: “Não há ninguém com este nome. É pilhéria. Uma garota assim fazer romance! Deve ser pseudônimo de sujeito barbado.”
Depois conheci João Miguel e conheci Rachel de Queiroz, mas ficou-me durante muito tempo a ideia idiota de que ela era homem, tão forte estava em mim o preconceito que excluía as mulheres da literatura. Se a moça fizesse discursos e sonetos, muito bem. Mas escrever João Miguel e O quinze não me parecia natural.
(Graciliano Ramos apud Luís Bueno. Uma história do romance de 30, 2006.)
Depreende-se da leitura do comentário que Graciliano Ramos
reprovava o fato de uma “mulher nova” se aventurar a escrever um romance.
acreditava que O quinze, por ser “livro de mulher”, corrompia a literatura brasileira.
considerava natural que mulheres também se dedicassem à escrita de romances.
reprovava o fato de um escritor “barbado” se valer de um pseudônimo feminino.
admitia o preconceito de que as mulheres deveriam se limitar a escrever sonetos.