UERJ 2016/2

A PRESSA DE ACABAR

[1] Evidentemente nós sofremos agora em todo o mundo de uma dolorosa moléstia: a pressa de

acabar. Os nossos avós nunca tinham pressa. Ao contrário. Adiar, aumentar, era para eles a

suprema delícia. Como os relógios, nesses tempos remotos, não eram maravilhas de precisão,

os homens mediam os dias com todo o cuidado da atenção.

[5] Sim! Em tudo, essa estranha pressa de acabar se ostenta como a marca do século. Não há

mais livros definitivos, quadros destinados a não morrer, ideias imortais. Trabalha-se muito mais,

pensa-se muito mais, ama-se mesmo muito mais, apenas sem fazer a digestão e sem ter tempo

de a fazer.

Antigamente as horas eram entidades que os homens conheciam imperfeitamente. Calcular

[10] a passagem das horas era tão complicado como calcular a passagem dos dias. Inventavam-se

relógios de todos os moldes e formas.

Hoje, nós somos escravos das horas, dessas senhoras inexoráveis* que não cedem nunca e

cortam o dia da gente numa triste migalharia de minutos e segundos. Cada hora é para nós

distinta, pessoal, característica, porque cada hora representa para nós o acúmulo de várias

[15] coisas que nós temos pressa de acabar. O relógio era um objeto de luxo. Hoje até os mendigos

usam um marcador de horas, porque têm pressa, pressa de acabar.

O homem mesmo será classificado, afirmo eu já com pressa, como o Homus cinematographicus.

Nós somos uma delirante sucessão de fitas cinematográficas. Em meia hora de sessão tem-se

um espetáculo multiforme e assustador cujo título geral é: Precisamos acabar depressa.

[20] O homem de agora é como a multidão: ativo e imediato. Não pensa, faz; não pergunta, obra;

não reflete, julga.

O homem cinematográfico resolveu a suprema insanidade: encher o tempo, atopetar o tempo,

abarrotar o tempo, paralisar o tempo para chegar antes dele. Todos os dias (dias em que ele não

vê a beleza do sol ou do céu e a doçura das árvores porque não tem tempo, diariamente, nesse

[25] número de horas retalhadas em minutos e segundos que uma população de relógios marca,

registra e desfia), o pobre diabo sua, labuta, desespera com os olhos fitos nesse hipotético

poste de chegada que é a miragem da ilusão.

Uns acabam pensando que encheram o tempo, que o mataram de vez. Outros desesperados

vão para o hospício ou para os cemitérios. A corrida continua. E o Tempo também, o Tempo

[30] insensível e incomensurável, o Tempo infinito para o qual todo o esforço é inútil, o Tempo que

não acaba nunca! É satanicamente doloroso. Mas que fazer?

João do Rio Adaptado de Cinematógrafo: crônicas cariocas. Rio de Janeiro: ABL, 2009.

A tira de André Dahmer pode ser relacionada com o texto anterior, a crônica de João do Rio.

O trecho da crônica que melhor evidencia essa relação é:

a

Trabalha-se muito mais, pensa-se muito mais, ama-se mesmo muito mais, (l. 6-7)

b

Em meia hora de sessão tem-se um espetáculo multiforme e assustador (l. 18-19)

c

Não pensa, faz; não pergunta, obra; não reflete, julga. (l. 20-21)

d

Uns acabam pensando que encheram o tempo, que o mataram de vez. (l. 28)

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