UERJ 2012/2

A palavra

 

Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito − como não imaginar que, sem querer, feri

alguém? Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma

reticência de mágoas. Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.

Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso

[5]  ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um

pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.

Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra

foi; deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque

senti no momento − e depois esqueci.

[10]  Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário, e o canário não cantava. Deram-lhe receitas

para fazer o canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse alguma coisa ao piano;

que pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em sua máquina de costura; que arranjasse para

lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário cantador; até mesmo que ligasse o rádio um

pouco alto durante uma transmissão de jogo de futebol... mas o canário não cantava.

[15]  Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma pequena frase melódica

de Beethoven − e o canário começou a cantar alegremente. Haveria alguma secreta ligação entre

a alma do velho artista morto e o pequeno pássaro cor de ouro?

Alguma coisa que eu disse distraído − talvez palavras de algum poeta antigo − foi despertar

melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente,

[20]  num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração

do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remotas esperanças.

 

RUBEM BRAGA PROENÇA FILHO, Domício (org.). Pequena antologia do Braga. Rio de Janeiro: Record, 1997

O episódio do canário traz uma contribuição importante para o sentido do texto, ao estabelecer uma analogia entre a palavra do escritor e a música assobiada pela amiga.
 
A inserção desse episódio no texto reforça a seguinte ideia:

a

a intolerância leva o artista ao isolamento

b

a arte atinge as pessoas de modo inesperado

c

a solidão é remediada com soluções artísticas

d

a profissão envolve o artista em conflitos desnecessários

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Resposta
B
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