Prefeitura de Oeiras 2022

Leia o texto a seguir e responda às questões de 01 a 10.


Por que é tão difícil admitir que estamos errados? A psiquiatria explica


  1. _____Teimosia, falta de empatia, polarização política. Nós costumamos encontrar diversas justificativas para
  2. quando não conseguimos convencer outra pessoa de que ela está errada, mesmo quando todos os fatos
  3. apontam que está. E, quando alguém finalmente muda de ideia — seja ao se convencer de que a Terra é
  4. redonda, de que o distanciamento social é sim uma medida eficaz contra o novo coronavírus ou de que
  5. determinado post foi ofensivo nas redes sociais —, é difícil vê-lo publicizando seu arrependimento.
  6. _____Mudar de opinião e falar sobre isso não é simples, e há décadas a psicologia vem tentando entender
  7. por que costumamos ser tão cabeças-duras. Mais recentemente, a neurociência também entrou nessa área,
  8. principalmente com os estudos do laboratório britânico Affective Brain Lab, da UCL (University College
  9. London). O TAB conversou com a diretora, Tali Sharot, e com o psiquiatra brasileiro Rodrigo Martins Leite,
  10. diretor de relações institucionais do IPq USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo) para
  11. entender quais são as raízes científicas desse problema e como ele se manifesta socialmente.
  12. _____Por que é difícil admitir que erramos? Para Sharot, a pergunta deve ser outra. "O problema não é
  13. necessariamente que a gente saiba que está errado e não admita. Na verdade, não percebemos que estamos
  14. errados", explica ela. A neurocientista pesquisa, há quase 20 anos, como o nosso cérebro reage à chegada de
  15. novas informações e descobriu que ele não grava tão bem aquelas que vão contra o que acreditamos —
  16. principalmente quando são negativas. "Há maneiras de saber quais mudanças de atividade cerebral
  17. deveríamos observar quando você recebe uma informação nova. Conseguimos ver que há menos 'gravação'
  18. acontecendo quando a informação não é desejável ou é contrária ao que você acredita", explica a
  19. neurocientista. "Isso ocorre principalmente nas regiões frontais, mas elas estão conectadas a regiões
  20. subcorticais que estão envolvidas com emoção, motivação, memória etc." E o problema não para por aí.
  21. _____Só acredita quem quer. Além de literalmente guardar menos os fatos que contrariam nossas crenças,
  22. nós nem vamos atrás deles, afirma a pesquisadora. "Descobrimos que as pessoas são mais propensas a
  23. procurar informações desejáveis e mais propensas a acreditar e reforçar suas crenças quando recebem
  24. informações desejáveis", relata. Sharot e sua equipe conseguiram enxergar, no cérebro, o funcionamento do
  25. que conhecemos hoje como vieses cognitivos.
  26. _____Vieses, sempre eles. Há registros de ao menos 120 vieses cognitivos, mas o mais famoso é, sem
  27. dúvida, o viés de confirmação, segundo o qual procuramos e aceitamos com mais facilidade informações que
  28. confirmam aquilo em que já acreditamos. "Isso significa que você tem menos chances de encontrar
  29. informações que vão contra o que você acredita", reforça Sharot. Um teste desenvolvido em 2015, pelo New
  30. York Times, envergonha muita gente que acredita estar imune ao viés de confirmação. Quando confrontados
  31. com uma informação que desbanca aquilo em que acreditamos — principalmente numa discussão acalorada
  32. —, entram em jogo as emoções para ―proteger‖ nossas posições. "Quando estamos tomados por alguma
  33. emoção forte, fica mais difícil ainda a dialética da conversa, porque as pessoas não estão debatendo ideias, e
  34. sim paixões", explica Leite, da USP. "Isso fortalece a sua opinião prévia sobre o assunto."
  35. _____Só sei que nada sei. Outro viés bastante popular para explicar a nossa dificuldade em reconhecer
  36. uma crença errada é o efeito Dunning-Kruger, lembra Leite. Os dois pesquisadores que dão nome ao efeito
  37. realizaram, em 1999, um estudo demonstrando que as pessoas que possuem pouco conhecimento sobre um
  38. assunto costumam ser mais confiantes e acreditam saber mais que a média. Isso se dá porque elas não têm
  39. conhecimento suficiente para serem capazes de perceberem e admitirem seus próprios erros. Por outro lado,
  40. aqueles que são gabaritados em determinado tema também têm uma visão distorcida sobre seu próprio nível
  41. de conhecimento. Essas pessoas acham que os outros estão tão bem informados quanto elas, então tendem
  42. a subestimar suas habilidades. "Quanto menos formação você tem em um assunto, menos preparo cognitivo,
  43. mais você acredita piamente na sua opinião sobre ele", resume Leite.
  44. _____Isso é desculpa para teimosia? Não. A ideia é ter consciência dos vieses comportamentais para
  45. tentar evitá-los ou, pelo menos, lembrar que todos encaramos os fatos de um ponto de vista bastante pessoal.
  46. Leite lembra que costumamos debater dentro de bolhas, vendo nossas opiniões amplificadas por discursos
  47. semelhantes, imaginando que estamos consumindo conteúdo ―novo‖. "A sociedade vem dialogando cada vez
  48. menos, acho que é uma tendência geral. Cada vez menos pensando no bem comum. Há sempre uma
  49. primazia da opinião individual, de pequenos grupos, nunca pensando numa perspectiva mais sistemática e
  50. globalizante", avalia ele.
  51. _____Impressão minha, ou estamos discutindo mais? O psiquiatra se lembra do sociólogo Zygmunt
  52. Bauman para defender que as redes sociais amplificam nossa necessidade de expor opiniões online. "A gente
  53. publiciza nossa vida privada de uma forma nunca antes vista. E essa avalanche de opiniões privadas
  54. colocadas em público acaba sofrendo manipulações — seja pelos algoritmos ou pela amplificação dos robôs",
  55. observa Leite. "Isso acaba contagiando muitas pessoas que eventualmente nem tinham uma opinião formada
  56. sobre o tema, mas é tamanho o bombardeio de mensagens e notícias que muitas vezes supera a capacidade
  57. do indivíduo de ter um filtro crítico sobre essas informações." Em consequência, todo mundo sente a
  58. necessidade de opinar — mesmo sem conhecer um assunto a fundo — e, como já vimos antes, ecoar vozes
  59. semelhantes às suas.
  60. _____Alguma dica para fazer alguém admitir um erro? "Quando as opiniões são afetivas, refratárias a
  61. dados, não adianta discutir. É análogo, na psiquiatria, a um paciente que tenha um delírio. Delírio é
  62. grosseiramente uma ideia irremovível, é uma convicção muito profunda", explica. Tanto o psiquiatra quanto a
  63. neurocientista afirmam que reabrir um diálogo e diminuir a polarização é um trabalho social conjunto, pois não
  64. há tipos de personalidades mais suscetíveis à teimosia e à dificuldade em admitir erros. Estamos todos tão
  65. propensos a isso quanto os que criticamos. A dica, segundo eles, é fazer a sua parte e, ativamente, procurar
  66. informações contrárias àquilo que você acredita. E estar aberto ao diálogo — mesmo que os assuntos mais
  67. espinhosos precisem ficar de lado, opina Leite. "Precisa ser um princípio geral encontrar pautas que girem em
  68. torno do interesse comum. Mas a politização está tão grave que a gente fala em ecologia, por exemplo, que é
  69. algo do bem comum, e já se fala que é uma pauta de esquerda. Precisamos voltar a procurar identidade entre
  70. as pessoas. A politização enfraquece muito nosso senso de comunidade."


(POLLO, Luiza. Por que é tão difícil admitir que estamos errados? A psiquiatria explica. TAB Uol, 13 jun. 2020. Com adaptações. Disponível em: <

https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/06/13/como-neurociencia-e-psiquiatria-explicam-nossa-dificuldade-em-admitir-erros.htm>)

A palavra "piamente" (linha 43) pode ser substituída, de maneira a manter o sentido do trecho em que ocorre, por:

a

convictamente

b

francamente

c

sobriamente

d

falsamente

e

caridosamente

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