TEXTO I
Perguntas sobre renda, raça e CPF viram entraves no Censo
Recenseadores relatam que condomínios costumam dificultar acesso para coleta de dados
"Eu não vou responder. É muito perigoso. Vocês tão pensando o quê? Chegam na minha casa do nada." É comum que recenseadores ouçam reclamações como esta durante a coleta de dados para o Censo de 2022, que teve início em 1º de agosto.
A Folha acompanhou o trabalho de duas equipes em dois locais da cidade de São Paulo, na Vila Clementino e em Paraisópolis (ambos na zona sul), durante esta quinta-feira (18). Em ambos, os pesquisadores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) relatam que muitas pessoas sentem medo de divulgar informações pessoais e a recusa em abrir a porta não é incomum.
Além disso, perguntas referentes à renda da residência e de dados pessoais, como CPF, assustam alguns. Diocélia Virmonde da Silva, 35, agente censitária municipal e responsável pelo posto de coleta da Vila Clementino, diz que pessoas com rendas mais baixas costumam receber melhor os pesquisadores.
Até o fim da coleta de dados, o posto em que ela trabalha vai visitar 30.000 domicílios. Até agora, já foram 3.000, sendo que cerca de 20% se recusaram a receber o pesquisador, que tentam convencer as pessoas a mudarem de ideia. "Explicamos que é importante para as políticas públicas", diz. Apenas em último caso, afirma ela, o agente informa que responder o questionário é obrigatório por lei.
Da Silva conta que, hoje, o maior problema são os condomínios. "Temos que entrar em contato com o porteiro, que fala com o zelador e passa para o síndico. Só que eles demoram muito para nos responder e eu preciso ir até lá e explicar a urgência", diz.
A agente censitária supervisora Vanessa Celina Campos, 20, diz ainda que, por se tratar de um ano de eleições, muitos acham que a pesquisa tem cunho político.
"Não tem nenhuma questão política. Isso causa receio, as pessoas acham que vamos perguntar em quem eles vão votar e não tem nada a ver", afirma ela.
O recenseador Alberto Longo Craveiro, 46, analisa que pessoas mais idosas que vivem só e passam muito tempo sozinhas acabam conversando com os pesquisadores. "Com a pandemia, as pessoas ficaram muito só e elas veem no recenseador uma oportunidade para conversar."
A pesquisa, que costuma ser realizada de dez em dez anos, é considerado o trabalho mais detalhado sobre as características demográficas e socioeconômicas da população brasileira. A edição mais recente ocorreu em 2010. A nova pesquisa seria em 2020, mas foi adiada devido à pandemia.
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Isabella Menon
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/08/perguntas-sobre-renda-raca-e-cpf-viram-entraves-no-censo.shtml. Adaptado. Acesso em 20 de agosto de 2022.
A palavra “Paraisópolis” é acentuada pela mesma razão da palavra:
júris
lápis
açúcar
ônibus