A obra Alguma poesia, publicada em 1930, marca a estreia de um dos mais emblemáticos escritores da literatura brasileira, Carlos Drummond de Andrade. O poema que segue integra a referida obra e serve como base para a questão proposta.
Também já fui brasileiro
Eu também já fui brasileiro
Moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
E aprendi nas mesas dos bares
Que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
E todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para uma mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
Minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isto, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
Satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
Não sou irônico mais não,
Não tenho mais ritmo mais não.
Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
A construção poética de "Também já fui brasileiro" reflete o(a)
negação dos valores proclamados pela arte moderna no Brasil.
violação dos padrões poéticos estabelecidos no Brasil até o Modernismo.
distanciamento da poesia brasileira da arte poética dos ritmos e das virtudes.
retomada da rítmica clássica no ato de construção proposta pelo Romantismo.
rompimento com as ideias nacionalistas, procurando uma arte poética antibrasileira.