A nova paisagem urbana, a modernização dos meios de comunicação, o impacto desses processos sobre os costumes, tudo isso constitui o marco e o ponto de resistência em relação ao qual se articulam as respostas produzidas pelos intelectuais. No intervalo de pouquíssimos anos, estes devem reprocessar, até em sua própria biografia, as mudanças que afetam as relações tradicionais, as formas de fazer e difundir cultura, os estilos de comportamento, as modalidades de consagração, o funcionamento das instituições. Como era de se esperar, as revistas tornam-se um instrumento de intervenção no novo cenário.
(Beatriz Sarlo. Paisagens imaginárias. Intelectuais, arte e meios de comunicação. Trad. Rubia Goldoni e Sergio Molina. São Paulo: Edusp, 1997. p. 215)
A urbanização e o incremento dos meios de comunicação no Rio de Janeiro e em São Paulo, no fim do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, devem ser compreendidos levando-se em conta alguns fatores, específicos de cada uma dessas localidades, que favoreceram esse processo. No caso do Rio de Janeiro, podemos citar, fundamentalmente,
seu papel de centro financeiro, a despeito de ser a capital, o apoio governamental às iniciativas privadas, o adensamento populacional em função da geografia da cidade; enquanto, em São Paulo, devemos destacar a contribuição dos anarquistas para o desenvolvimento industrial e a instalação prévia de ferrovias interligando o Estado.
seu mercado interno desenvolvido, o fácil escoamento, dada sua localização, de produtos importados e exportados e a vigência de um plano concreto de desenvolvimento e modernização da cidade; enquanto, em São Paulo, devemos destacar o farto emprego de capital inglês e a hegemonia política da aristocracia escravista.
sua posição estratégica entre São Paulo e Minas Gerais, a influência da maçonaria e o sucesso dos empreendimentos criados pelo Barão de Mauá; enquanto, em São Paulo, devemos citar o emprego precursor de mão de obra livre, a agroindústria da cana e a estabilidade do polo econômico centrado no Vale do Paraíba.
sua fama internacional de cidade paradisíaca que atraiu investimentos estrangeiros, a extensa linha férrea da Central do Brasil ligando as principais cidades brasileiras à capital e o desenvolvimento dos setores de serviços; enquanto, em São Paulo, devemos citar a pujança dos bairros operários, a emergência da indústria têxtil e o sucesso da política do café com leite.
sua função de centro administrativo do país, a mão de obra abundante, a existência de um grande porto e o desenvolvimento inicial dos setores têxtil e de alimentos; enquanto, em São Paulo, devemos destacar o capital acumulado e a diversificação industrial resultantes do êxito comercial da produção cafeeira.