ENEM 2019 segunda aplicação

A nossa emotividade literária só se interessa pelos populares do sertão, unicamente porque são pitorescos e talvez não se possa verificar a verdade de suas criações. No mais é uma continuação do exame de português, uma retórica mais difícil, a se desenvolver por este tema sempre o mesmo: Dona Dulce, moça de Botafogo em Petrópolis, que se casa com o Dr. Frederico. O comendador seu pai não quer porque o tal Dr. Frederico, apesar de doutor, não tem emprego. Dulce vai à superiora do colégio de irmãs. Esta escreve à mulher do ministro, antiga aluna do colégio, que arranja um emprego para o rapaz. Está acabada a história. É preciso não esquecer que Frederico é moço pobre, isto é, o pai tem dinheiro, fazenda ou engenho, mas não pode dar uma mesada grande.

Está aí o grande drama de amor em nossas letras, e o tema de seu ciclo literário.

BARRETO, L. Vida e morte de MJ Gonzaga de Sá. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 10 ago. 2017.

Situado num momento de transição, Lima Barreto produziu uma literatura renovadora em diversos aspectos.

No fragmento, esse viés se fundamenta na

a

releitura da importância do regionalismo.

b

ironia ao folhetim da tradição romântica.

c

desconstrução da formalidade parnasiana.

d

quebra da padronização do gênero narrativo.

e

rejeição à classificação dos estilos de época.

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Resposta
B
Tempo médio
2 min

Resolução

A questão pede para identificar como o "viés renovador" da literatura de Lima Barreto, mencionado no segundo texto, se manifesta no fragmento apresentado no primeiro texto.

Passo 1: Análise do Fragmento de Lima Barreto (Texto 1)

Lima Barreto inicia criticando o interesse superficial da literatura da época pelos "populares do sertão", focado apenas no pitoresco. Em seguida, ele descreve ironicamente um enredo que considera repetitivo e artificial na literatura urbana: a história de Dona Dulce e Dr. Frederico. Ele detalha a trama: moça de família rica (mas pai reticente), rapaz "pobre" (mas de família com posses), oposição paterna baseada na falta de emprego do rapaz, e a resolução do conflito através de "pistolão" (intervenção de figuras influentes para conseguir um emprego). Barreto conclui sarcasticamente: "Está aí o grande drama de amor em nossas letras, e o tema de seu ciclo literário."

Passo 2: Análise do Texto de Contexto (Texto 2)

Este texto afirma que Lima Barreto, situado em um momento de transição (Pré-Modernismo), produziu uma literatura "renovadora" em diversos aspectos.

Passo 3: Conexão entre os Textos e as Alternativas

Devemos buscar no fragmento de Barreto (Texto 1) a base para a afirmação de que sua literatura era "renovadora" (Texto 2). A renovação implica uma crítica ou superação de modelos anteriores.

  • A crítica de Barreto se direciona claramente a um tipo de enredo sentimental, previsível e baseado em convenções sociais e soluções fáceis ("arranjar um emprego").
  • Esse tipo de enredo, com mocinhas casadoiras, rapazes em busca de posição e dramas amorosos resolvidos por conveniência ou influência, era muito característico dos folhetins, populares durante o Romantismo no século XIX.
  • A forma como Barreto descreve essa trama é carregada de ironia, diminuindo sua importância ("Está aí o grande drama...") e expondo sua artificialidade.
  • Portanto, o viés renovador de Barreto, neste fragmento, manifesta-se pela crítica irônica a essa tradição literária, especificamente aos clichês do folhetim romântico.

Passo 4: Avaliação das Alternativas

  • A (releitura da importância do regionalismo): Embora mencione o sertão, a crítica principal do texto é ao enredo urbano descrito. Não há uma releitura aprofundada do regionalismo aqui.
  • B (ironia ao folhetim da tradição romântica): Esta opção descreve perfeitamente o que Barreto faz no fragmento: ele usa a ironia para criticar os enredos típicos dos folhetins românticos.
  • C (desconstrução da formalidade parnasiana): O Parnasianismo valorizava a forma poética. O texto de Barreto critica o conteúdo e o enredo da prosa narrativa, não a formalidade parnasiana.
  • D (quebra da padronização do gênero narrativo): A crítica é a um tipo específico de enredo (o folhetinesco), não necessariamente uma quebra de toda a padronização do gênero narrativo em si neste trecho. A inovação aqui é mais temática e crítica do que estrutural do gênero.
  • E (rejeição à classificação dos estilos de época): Embora o Pré-Modernismo, período de Barreto, questione estilos anteriores, o fragmento não discute a classificação em si, mas critica o conteúdo de uma tradição específica (Romantismo/folhetim).

Conclusão: A alternativa que melhor descreve como o viés renovador de Lima Barreto se fundamenta no fragmento é a ironia direcionada aos enredos típicos do folhetim romântico.

Portanto, a alternativa correta é a B.

Dicas

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Preste atenção à descrição detalhada da história de Dona Dulce e Dr. Frederico.
Qual é o tom de Lima Barreto ao chamar essa história de "o grande drama de amor em nossas letras"?
A que tipo de literatura do século XIX esse enredo sentimental e com soluções convenientes se assemelha?

Erros Comuns

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Focar apenas na menção inicial ao "sertão" e associá-la diretamente ao regionalismo, sem perceber que a crítica principal se desenvolve sobre o enredo urbano (erro que leva à alternativa A).
Não reconhecer o enredo descrito (Dona Dulce/Dr. Frederico) como típico do folhetim romântico.
Não identificar o tom irônico de Lima Barreto ao descrever o "grande drama de amor".
Confundir a crítica de Barreto com uma crítica ao Parnasianismo, talvez por associar Pré-Modernismo à superação do Parnasianismo/Simbolismo (erro que leva à C).
Interpretar a crítica a um tipo de enredo como uma quebra geral das normas do gênero narrativo (erro que leva à D).
Confundir a crítica ao conteúdo de um estilo com uma rejeição explícita à categorização dos estilos literários (erro que leva à E).
Revisão

Revisão de Conceitos

  • Lima Barreto e o Pré-Modernismo: Lima Barreto (1881-1922) é um dos principais nomes do Pré-Modernismo no Brasil (aproximadamente 1902-1922). Este período foi uma transição entre o Simbolismo/Parnasianismo e o Modernismo. Caracterizou-se por um olhar crítico sobre a realidade brasileira (social, política, cultural), a denúncia das desigualdades, o interesse por temas suburbanos e populares, e uma linguagem mais coloquial e direta, rompendo com o formalismo anterior.
  • Romantismo e Folhetim: O Romantismo (no Brasil, principalmente na segunda metade do século XIX) valorizava o sentimentalismo, o individualismo e, muitas vezes, idealizava a sociedade e o amor. O folhetim era uma forma de publicação de romances em capítulos (em jornais), muito popular na época. Frequentemente apresentava enredos melodramáticos, com personagens estereotipados, amores contrariados por questões sociais ou financeiras, e finais felizes muitas vezes artificiais.
  • Ironia: Figura de linguagem que consiste em dizer o contrário do que se pensa, geralmente com intenção crítica ou sarcástica. Lima Barreto utiliza a ironia no fragmento ao descrever o enredo de Dona Dulce como o "grande drama de amor em nossas letras", quando na verdade o está ridicularizando por sua banalidade e previsibilidade.
  • Crítica Literária: Análise e avaliação de obras literárias, estilos ou movimentos. Lima Barreto, em sua obra, frequentemente fazia críticas à literatura de seu tempo, apontando o que considerava artificial, alienado ou superficial.
Habilidade

Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.

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