A mulher de preto
Meneses foi o primeiro que rompeu o silêncio de alguns minutos, dizendo ao jovem amigo:
_ Espero que o romance da nossa amizade não termine no primeiro capítulo.
Estêvão, que já reparara nas maneiras solícitas do deputado, ficou inteiramente pasmado quando lhe ouviu falar no romance da amizade. A razão era simples. O amigo que os havia apresentado no teatro Lírico disse no dia seguinte:
_Meneses é um misantropo, e um cético; não crê em nada, nem estima ninguém. Na política como na sociedade faz um papel puramente negativo.
Esta era a impressão com que Estêvão, apesar da simpatia que o arrastava, falou a segunda vez a Meneses, e admirava-se de tudo, das maneiras, das palavras, e do tom de afeto que elas pareciam revelar.
À linguagem do deputado o jovem médico respondeu com igual franqueza.
_ Por que acabaremos no primeiro capítulo? _ perguntou ele; _ um amigo não é coisa que se despreze, acolhe-se como um presente de deuses.
_ Dos deuses! – disse Meneses rindo; _ já vejo que é pagão.
_ Alguma coisa, é verdade; mas no bom sentido – respondeu Estêvão rindo também. – Minha vida assemelha-se um pouco à de Ulisses...
_ Tem ao menos uma Ìtaca, sua pátria, e uma Penélope, sua esposa.
_ Nem uma nem outra.
_Então entender-nos-emos.
ASSIS, Machado de Contos fluminenses. São Paulo: Martin Claret, 2006, pp. 59 e 60.
No fragmento acima, observa-se que há uma referência a uma obra da literatura clássica universal. Assinale a obra/autor a que pertence esta referência:
Fausto, de Goethe.
Odisséia, de Homero.
Édipo rei, de Sófocles.
Medéia, de Eurípedes.
Madame Bovary, de Flaubert.