A literatura brasileira nasceu sob o signo do Barroco, caracterizado nas letras pelo virtuosismo de ideias e pelo rebuscamento formal. Essa arte exige raciocínio agudo, como se nota na retórica do padre Antônio Vieira, portanto um "cérebro sarado".
Diz Vieira no seu ‘‘Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda’’:
[...] "Se eu [Jó] fiz, Senhor, como homem em pecar, que razão tendes vós para não fazer, como Deus, em me perdoar?"
[...] E que fizestes vós, Jó, a Deus, em pecar? - Não lhe fiz pouco; porque lhe dei ocasião a me perdoar, e perdoando me, ganhar muita glória. Eu dever-lhe-ei a ele, como a causa, a graça que me fizer; e ele dever-me-á a mim, como a ocasião, a glória que alcançar.
E se é assim, Senhor, [...] que em perdoar pecados se aumenta a vossa glória, que é o fim de todas as vossas ações, não digais que nos não perdoais, porque são muitos e grandes os nossos pecados, que antes porque são muitos e grandes, deveis dar essa grande glória à grandeza e multidão de vossa misericórdia.
Com respeito ao texto, todas as afirmativas estão corretas, EXCETO
O orador parafraseia uma passagem das sagradas escrituras.
O perdão é objeto de uma negociação em que a moeda é o prestígio divino.
Fica desequilibrada a hierarquia entre Deus e o pecador, diante do trunfo (do argumento, da vantagem) de cada um.
Quanto maior for o pecado, maior deverá ser o perdão.
A função fática da linguagem impõe-se na argumentação.