UPF Inverno 2013

A imagem tem a composição clássica de uma pintura renascentista: a luminosa figura da madonna é o centro para o qual

todos os outros elementos do quadro convergem. A madonna, neste caso, não é “uma” madonna, mas “a” Madonna. E as

crianças não são anjos, mas meninos pobres do Maláui.

Divulgada há alguns dias pelas agências de notícias, a fotografia de Madonna cercada por crianças africanas é como

aqueles passatempos em que se procuram os sete erros em uma imagem. Há algo fora do lugar ali, embo ra não seja fácil

apontar as incoerências sem deter-se alguns minutos nos detalhes da foto.

Uma imagem não é apenas uma imagem, mas todo o repertório de informações prévias que evoca. Olhando Madonna

sentada no chão em um dos países mais pobres do mundo, é impossível não pensar em tudo o que sabemos sobre ela, sobre

celebridades, sobre filantropia. De alguma forma, todas essas informações vão sendo processadas em nosso cérebro até que

chegamos a um veredicto íntimo que nos faz: a) ficar indiferentes, b) desconfiar dos interesses por trás da foto, c) achar que

Madonna é uma pessoa bacana, d) ficar com pena das crianças pobres, e) pensar que também deveríamos estar

fazendo trabalho voluntário.

Não sendo uma pessoa de natureza cínica, daquelas que vê intenções ocultas por trás de qualquer gesto de generosidade

aparentemente desinteressado, fiquei incomodada com essa fotografia. Há algo naquela roupa branca, naqueles joelhos

dobrados sobre a terra escura, no olhar indiferente das crianças em contraste com o olhar estudado da visitante, nas risadas

dos adultos no fundo da foto, na gratuidade do gesto de sentar-se em meio a crianças sem interagir com elas, que grita para o

espectador: “Oi, você sabe quem eu sou e agora sabe também que sou tão legal, que nem me importo de estar aqui sujando a

minha calça branca”.

Celebridades usam o trabalho voluntário como uma espécie de Omo Total da imagem pública. Não há nada que limpe uma

barra e tenha um efeito tão imediato quanto uma boa fotografia de um astro sujando os sapatos na terra escura do mundo real.

Por outro lado, não há divulgação mais eficiente para uma causa humanitária do que associá-la a uma celebridade. É um toma

lá dá cá que pode, sim, beneficiar ambos os lados – e é preciso ser pragmático com relação a isso.

Mas para que a imagem de uma pessoa comprometida com causas sociais se consolide, como nos casos de Audrey

Hepburn, Lady Di e agora Angelina Jolie, não basta uma viagem ao Haiti e um sorriso. É preciso persistência e consistência,

qualidades que nem todos os samaritanos de ocasião conseguem desenvolver – o que me parece ser o caso de Madonna.

No Brasil, que está longe de ter uma cultura de trabalho voluntário regular e organizada, as empresas mais antenadas

começam a dar importância a esse tipo de experiência na hora de contratar funcionários. É um outro tipo de toma lá dá cá – e

pode ajudar o país a começar a usar o seu enorme potencial de solidariedade de forma mais sistemática.

E mesmo isso pode ser produto, em parte, da visibilidade que as celebridades vêm dando ao trabalho voluntário. De

coração ou não.

LAITANO, Cláudia. Madonna e os meninos, Zero Hora, Porto Alegre, 13 abr. 2013. Segundo Caderno.

Assinale a alternativa correta acerca do elenco de ideias apresentado nas linhas 10 a 12.

a

Determina a maneira como o leitor deve se posicionar frente aos fatos.

b

Aponta as intenções perseguidas pelos veículos de comunicação que expõem cenas como as da cantora Madonna.

c

Levanta as diferentes leituras que podem ser estabelecidas a respeito do fato narrado.

d

Mostra como as pessoas são volúveis nas suas opiniões, muitas vezes baseando-se apenas em aparências.

e

Estabelece a ordem dos sentimentos despertados no leitor através da análise da fotografia de Madonna e das crianças.

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Resposta
C
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