ETEC 2015/2

A estranha passageira

Stanislaw Ponte Preta

 

– O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou com zero hora de voo - e riu nervosinha, coitada.

 

Depois pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se foi a oportunidade de ler o romance policial que eu comprara no aeroporto, para me distrair na viagem. Suspirei e me fiz de educado respondendo que estava às suas ordens. 

 

Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu embaraço ante as perguntas que aquela senhora me fazia aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A coisa foi ficando ridícula: – Para que esse saquinho aí? – foi a pergunta que fez, num tom de voz que parecia que ela estava no Rio e eu em São Paulo.

 

– É para a senhora usar em caso de necessidade – respondi baixinho.

 

Tenho certeza de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam qual foi, porque ela arregalou os olhos e exclamou: 

 

– Uai... as necessidades neste saquinho? No avião não tem banheiro? Alguns passageiros riram, outros – por fineza – fingiram ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira de primeira viagem. Mas ela era um azougue* (...) e não parava de badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás e esparramando embrulhos por todos os lados. 

 

O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta: 

 

– Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?

 

Expliquei que emergência não era ninguém, a porta é que era de emergência, isto é, em caso de necessidade, saía-se por ela.

 

Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término do “show”. Mesmo os que mais se divertiam com ele resolveram abrir jornais, revistas ou se acomodarem para tirar uma pestana durante a viagem.

 

Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela pedira para ficar do lado da janelinha para ver a paisagem) e gritou:

 

– Puxa vida!!!

 

Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse:

 

– Olha lá embaixo. 

 

Eu olhei. E ela acrescentou: – Como nós estamos voando alto, moço.

 

Olha só ... o pessoal lá embaixo parece formiga.

 

Suspirei e lasquei:

 

– Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não levantou voo.

<http://atividadeslinguaportuguesa.blogspot.com.br/2013/08/a-estranha-passageira-estanislaw-ponte.html> Acesso em: 26.02.2015. Adaptado.

* azougue: indivíduo que expressa ligeireza; quem é muito rápido.

 

Considerando o texto, é Correto dizer que “a estranha passageira” 

a

exigiu que as aeromoças esclarecessem algumas dúvidas.

b

omitiu do narrador o fato de nunca ter viajado de avião.

c

era uma cliente assídua daquela companhia aérea.

d

impossibilitou que o narrador desfrutasse do prazer da leitura. 

e

notou que alguns passageiros dispunham de assentos privilegiados.

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D
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