ENEM 2023

A escravidão

 

    Esses meninos que aí andam jogando peteca não viram nunca um escravo... Quando crescerem, saberão que já houve no Brasil uma raça triste, votada à escravidão e ao desespero; e verão nos museus a coleção hedionda dos troncos, dos vira-mundos e dos bacalhaus; e terão notícias dos trágicos horrores de uma época maldita: filhos arrancados ao seio das mães, virgens violadas em pranto, homens assados lentamente em fornos de cal, mulheres nuas recebendo na sua mísera nudez desvalida o duplo ultraje das chicotadas e dos olhares do feitor bestial. [...]

    Mas a sua indignação nunca poderá ser tão grande como a daqueles que nasceram e cresceram em pleno horror, no meio desse horrível drama de sangue e lodo, sentindo dentro do ouvido e da alma, numa arrastada e contínua melopeia, o longo gemer da raça mártir — orquestração satânica de todos os soluços, de todas as impressões, de todos os lamentos que a tortura e a injustiça podem arrancar a gargantas humanas.

BILAC, O. Disponível em: www.escritas.org. Acesso em: 29 out. 2021.

 

Publicado em 1902, o texto de Olavo Bilac enfatiza as mazelas da escravidão no Brasil ao

a

descrever de modo impessoal as consequências da exploração racial sobre as gerações futuras.

b

contrapor a infância privilegiada das crianças da época a infância violentada das crianças escravizadas.

c

antecipar o futuro apagamento das marcas da escravidão no contexto social.

d

criticar a atenuação da violência contra os povos escravizados nas memórias retratadas pelos museus.

e

imaginar a reação de indiferença de seus contemporâneos com os escravizados libertos.

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Resposta
C

Resolução

A questão pede para identificar como o texto de Olavo Bilac enfatiza as mazelas (os males, as desgraças) da escravidão no Brasil.

Análise do Texto:

  • O autor se dirige a uma geração futura ("Esses meninos que aí andam jogando peteca") que não vivenciou a escravidão diretamente.
  • Ele descreve com forte carga emocional e detalhes brutais os horrores da escravidão: separação de famílias, violência sexual, tortura física (fornos de cal, chicotadas), humilhação e desespero. Usa termos como "raça triste", "coleção hedionda", "trágicos horrores", "época maldita", "feitor bestial", "horrível drama", "orquestração satânica".
  • Bilac prevê que essa futura geração conhecerá a escravidão através de relatos e museus ("verão nos museus", "terão notícias").
  • Ele estabelece um contraste fundamental: a indignação que essas futuras gerações sentirão ("Mas a sua indignação nunca poderá ser tão grande") será menor do que o horror vivido por quem presenciou ou sofreu a escravidão ("daqueles que nasceram e cresceram em pleno horror").

Avaliação das Alternativas:

  • A (Incorreta): O modo não é impessoal; é carregado de emoção e subjetividade ("indignação", "alma", "horror"). O foco principal não são as consequências *sobre* as gerações futuras, mas sim como elas *perceberão* o passado.
  • B (Incorreta): Embora mencione crianças brincando, o contraste principal não é entre infâncias, mas entre a experiência direta do horror no passado e o conhecimento mediado no futuro. A violência descrita afeta a todos, não apenas crianças.
  • C (Correta): Ao afirmar que a indignação futura será menor e que o conhecimento virá de museus e notícias, Bilac sugere que a vivacidade, a crueza e o impacto imediato da escravidão se perderão com o tempo. A memória se tornará histórica, mediada, menos visceral. Isso configura uma forma de "apagamento" ou atenuação das marcas da escravidão na experiência social direta, embora a memória histórica (e a indignação) permaneça. Ele enfatiza os horrores justamente para combater esse esquecimento, mas antecipa que a *percepção* futura será diferente e menos intensa.
  • D (Incorreta): O texto não critica os museus por atenuarem a violência. Pelo contrário, sugere que os museus exibirão a "coleção hedionda" e serão fontes de informação sobre os "trágicos horrores".
  • E (Incorreta): O texto se dirige às gerações futuras, não aos contemporâneos de Bilac. Além disso, prevê indignação, não indiferença.

Conclusão: O texto enfatiza as mazelas da escravidão ao descrever vividamente seus horrores e, simultaneamente, ao antecipar que a percepção futura desses horrores, mediada pela história e pelos museus, não terá a mesma intensidade da experiência vivida, sugerindo um progressivo distanciamento ou "apagamento" do trauma no tecido social imediato.

Dicas

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Preste atenção a quem Olavo Bilac está se dirigindo no texto.
Note o contraste que o autor estabelece entre a experiência direta da escravidão e o conhecimento futuro sobre ela.
Reflita sobre como a memória de eventos históricos traumáticos tende a mudar ao longo das gerações.

Erros Comuns

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Interpretar o tom do texto como impessoal (levando à opção A).
Focar excessivamente na menção inicial às crianças e achar que o contraste principal é entre infâncias (levando à opção B).
Interpretar mal a menção aos museus, achando que há uma crítica a eles (levando à opção D).
Confundir o interlocutor do texto (pensar que são os contemporâneos de Bilac) ou a reação prevista (pensar que é indiferença) (levando à opção E).
Não compreender o conceito de "apagamento" como um processo de atenuação da memória viva e do impacto social direto, e não necessariamente como um esquecimento total.
Revisão

Interpretação de Texto Literário: Capacidade de analisar elementos como tema, linguagem, tom, figuras de linguagem e intenção do autor em um texto literário.

Contexto Histórico (Pós-Abolição): O texto foi escrito em 1902, após a Lei Áurea (1888). Reflete sobre a memória da escravidão em um Brasil que tentava lidar com esse passado recente e brutal. A sociedade ainda vivia as consequências sociais e raciais da escravidão.

Memória Social: Como um grupo ou sociedade constrói, mantém e transmite memórias de eventos passados, especialmente eventos traumáticos como a escravidão. O texto aborda a transição da memória vivida para a memória histórica.

Olavo Bilac e o Parnasianismo: Embora Bilac seja um expoente do Parnasianismo (movimento literário focado na forma, objetividade e temas clássicos), neste texto ele demonstra uma forte preocupação social e um tom emocional, características menos típicas do movimento, aproximando-se de uma sensibilidade pré-modernista ou de um lirismo social.

10%
Taxa de acerto
Habilidade

Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.

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