A charge é caracterizada por ser um gênero textual que, com recurso ao humor e à irreverência, satiriza algum acontecimento da atualidade. A charge a seguir faz alusão a um perfil que vem marcando o comportamento das pessoas na contemporaneidade e estabelece um paralelo com o enunciado "Penso, logo existo", do filósofo e matemático francês René Descartes, que o utilizou para colocar a razão humana como forma de existência.
Analisando a estratégia argumentativa utilizada, avalie as afirmativas que seguem sobre os possíveis sentidos movimentados por esse texto e indique a incorreta:
Ao utilizar dois quadros, nos quais as informações verbais e não verbais estão distribuídas de forma idêntica, a charge coloca em evidência duplas de elementos que, semanticamente, estão em contradição: i) verdade x pós-verdade; ii) um homem cujo biotipo e vestimenta lembram uma época que não a contemporânea x um homem vestindo uma camiseta, roupa comum na atualidade (o que pode remeter à contradição passado x presente); iii) penso x acredito; iv) existo x estou certo.
A menção ao enunciado de Descartes, amplamente conhecido por seu impacto na ciência e na filosofia, contribui para a compreensão da crítica apresentada pela charge.
O contexto da charge remete à reflexão de que a verdade mantém relação com o pensar e de que o acreditar consiste em uma ação posterior. Nesse processo, o acreditar, mais fundamentado, é caracterizado por estar em um nível mais elevado em relação à verdade, o que pode ser inferido da informação “pós-verdade”.
Ao utilizar os termos “penso” e “acredito”, a charge põe em conflito duas ações diferentes. A primeira remete a um ato intelectualizado (o ato de pensar e refletir) e a segunda a um ato subjetivo, o de acreditar, cuja origem pode não estar fundada na ciência ou em evidências que materializem esse acreditar, mas em convicções pessoais.
Ao fazer referência a “estou certo”, a charge revela um perfil inflexível e sugere que, na pós-verdade, os indivíduos não se mostram dispostos a abrir mão de suas convicções pessoais, tampouco a refletir sobre elas.